- Blog do Noblat / Metrópoles
O perdão dado a Pazuello representa um
risco para a unidade das Forças Armadas, e favorece a indisciplina
Quem diria que um dia, de volta aos
quartéis há 36 anos depois de bancar uma ditadura que o desgastou e mandou pelo
ralo a disciplina e a hierarquia militares, o Exército incorreria no mesmo
erro. Ditadura à vista, por enquanto, não há nem parece provável.
Mas a disciplina e a hierarquia foram
comprometidas com a decisão de não punir o general Eduardo Pazuello,
ex-ministro da Saúde, que compareceu a uma manifestação político-partidária em
favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro.
Espera-se, e não deverá tardar, a presença de militares da ativa, de baixa patente, em manifestações da mesma natureza a favor ou contra o presidente da República. E se tal ocorrer? Serão poupados de punição como foi o general? Serão punidos ao contrário dele?
O Regulamento Disciplinar do Exército só
vale para militares que não tenham alcançado ainda o generalato? Ou continua
valendo para todos, menos para os simpatizantes do ex-capitão que, no passado,
planejou atentados terroristas a unidades militares?
Disciplina e hierarquia devem ser
desprezadas se o objetivo final é evitar a volta de partidos de esquerda ao
poder? Em 2018, o Exército esqueceu os motivos que o levaram a afastar
Bolsonaro dos seus quadros para apoiá-lo como candidato a presidente.
Sob o pretexto de não perder o controle dos
praças e oficiais que votariam em massa no ex-capitão, o Exército, à época
comandado pelo general Eduardo Villas Bôas, aderiu à candidatura Bolsonaro e
fez o confessável e o inconfessável para que ele se elegesse.
Confessável foi pressionar o Supremo Tribunal Federal para que mantivesse Lula preso e inelegível. Inconfessável, por exemplo, compartilhar com Bolsonaro informações sigilosas, obtidas pelo serviço de inteligência da Arma, para que não fosse surpreendido.
A recompensa aos fardados foi oferecida tão
logo Bolsonaro assumiu a presidência. Como ele mesmo admitiu outro dia, nem os
governos da ditadura empregaram tantos militares em cargos antes ocupados por
civis. São mais de seis mil até agora.
Os contracheques engordaram. Os militares
tiveram direito a uma reforma da Previdência para chamar de sua. Enquanto os
paisanos sofriam perdas, os fardados ganharam reajustes de até 73%, incluindo
novos penduricalhos.
Os oficiais que vão para a reserva passaram
a ganhar bônus de oito salários, o dobro da regra anterior. Um dos primeiros a
receber foi o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Ele pendurou o
quepe de almirante com um mimo de R$ 300 mil.
O perdão a Pazuello poderá render outros
dividendos aos fardados, mas o resultado imediato é a cisão nas fileiras do
Exército. Muitos oficiais à frente de batalhões estão inconformados. Como
garantir o respeito às suas ordens depois do que aconteceu?
Uma vez que o vírus da anarquia militar
escapa ao laboratório do Exército onde suas causas e efeitos são estudados,
fica difícil detê-lo. É grande o risco de a infecção espalhar-se. Na verdade, é
o que mais deseja Bolsonaro, temeroso de não se reeleger.
Governador de Pernambuco ordena uma limpeza
geral na PM
Pacto de silêncio entre coronéis dificulta
a descoberta de quem deu a ordem para que se usasse violência contra
manifestantes
Paulo Câmara (PSB), governador de
Pernambuco, corre em busca do tempo perdido depois que o Batalhão de Choque da
Polícia Militar desobedeceu sua ordem de não reprimir com violência a
manifestação antibolsonarista do último sábado, no Recife.
Câmara levou quatro dias para demitir o
comandante da Polícia Militar e somente ontem demitiu Antonio Pádua, Secretário
da Defesa Social. Ao novo comandante da Polícia Militar, homem de sua
confiança, mandou que trocasse os chefes de batalhões.
Pádua caiu porque não conseguiu responder à
pergunta de Câmara: quem mandou o Batalhão de Choque disparar balas de borracha
que deixaram dois homens parcialmente cegos, chefes de família que sequer
participavam das manifestações?
Na companhia de uma dezena de coronéis,
Pádua acompanhou as manifestações quase até o fim delas. A certa altura, saiu
da sala onde fazia o monitoramento do meio de câmeras e foi dar uma entrevista.
Foi nesse momento que a violência irrompeu.
O ex-comandante não quis revelar de quem
partiu a ordem. Soldados jogaram bombas de gás lacrimogêneo contra um grupo
reduzido de pessoas em cima da ponte Duarte Coelho. Um soldado atirou na
direção de quem estava nas janelas de um sobrado.
Ouvidos em inquérito, os coronéis que viram
as cenas por meio das câmeras nada esclareceram. Parece haver um pacto de
silêncio entre eles. Aos olhos do governador, foram todos cúmplices do que
aconteceu. Daí a limpeza que pretende fazer na polícia.
Manifestação bolsonarista no Recife jamais foi reprimida.
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