O Estado de S. Paulo
Reformas ministeriais fazem parte do
processo político. Em tese, visam aprimorar a eficiência geral do Executivo:
desempenho administrativo, representatividade e prestígio social do Ministério,
governabilidade e vínculos, no Congresso, por meio do compartilhamento de
espaços de poder. São pensadas no contexto de amplos projetos de poder, de
desenvolvimento econômico e social. No caso concreto do Brasil, porém, tese e
realidade se desencontram frequentemente. Sob as circunstâncias que abraçam
Jair Bolsonaro esse desencontro parece ainda mais dramático.
É fato que a maioria das reformas ministeriais, no País, é feita sob a pressão dos riscos da fragilidade de vínculos entre governo e Parlamento. Dão-se quando o sistema de barganhas entra em colapso e precisa ser repactuado a preços crescentes para o Executivo. Sob Bolsonaro, os valores estão hiperinflacionados. A presente reforma se dá à sombra de mais de 100 pedidos de impeachment, do quase total descrédito diante da opinião pública, fruto dos múltiplos colapsos, da economia à saúde pública, revelados no cotidiano das pessoas e no dia a dia das sessões da CPI da Covid. As perspectivas eleitorais são desalentadoras para a base governista, como demonstram pesquisas de opinião. O “custo Bolsonaro” aumenta em cada rincão do País; natural que os preços disparem e atinjam espaços centrais de poder.
Hoje, Bolsonaro é refém de um sistema que não apenas não soube controlar como a ele se entregou docilmente, embora sem admitir a seus fanáticos. Pois, ao mesmo tempo, é refém da própria língua porque seus gestos negam o farisaísmo eleitoral que, um dia, explorou. Da “nova política” ao aprofundamento de sua capitulação, Bolsonaro é consciente da regra básica do fisiologismo: quanto mais fraco o governo maior é o preço a pagar. A Casa Civil é o coração do governo. Nas mãos de Ciro Nogueira, a tendência é de que ceda mais e mais nacos de poder e orçamento. O Centrão não perde tempo na fila do osso.
*Cientista Político, professor do Insper
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