Blog do Noblat / Metrópoles
“Se gritar pega Centrão, não fica um, meu
irmão...”
Uma vez que o Centrão arrombou a porta para
se instalar de vez no Palácio do Planalto sob a batuta do senador Ciro Nogueira
(PP-PI), novo chefe da Casa Civil, seria o caso de o general Augusto Heleno,
ministro do Gabinete de Segurança Institucional, atualizar a gravação que fez
de uma paródia do samba “Gente Bacana”, cujo refrão diz: “Se gritar pega
ladrão, não fica um meu irmão”.
Na convenção do PSL que em 2018 indicou
Jair Bolsonaro como candidato a presidente da República, o general, para
demonstrar todo o seu e o desprezo do candidato ao fisiologismo político, ao
“dando é que se recebe”, marca registrada do Centrão, cantou desafinado e mesmo
assim arrancou aplausos dos devotos:
“Se gritar pega Centrão, não
fica um meu irmão; se gritar pega Centrão, não fica um…”
Em maio último, ao render-se às evidências
de que Bolsonaro e o Centrão estavam de casamento marcado, o general foi ao
Congresso depor e disse com a cara mais deslavada do mundo:
“Eu não tenho hoje essa opinião e nem reconheço hoje a existência desse Centrão. A evolução de opinião faz parte da vida do ser humano. Faz parte do show, do show político”.
Mudou o Centrão ou mudou o general? O
Centrão jamais mudará. Uma vez que o governo, qualquer governo de qualquer
tendência, careça de apoio, sempre poderá contar com o Centrão, desde que em
troca de cargos e de outras vantagens, confessáveis ou não. Foi pelo PP de
Nogueira que Bolsonaro entrou na política. Ao PP, junto com seus filhos, deverá
retornar. É sangue do seu sangue.
Quanto ao general Heleno, a sorte dele é
que o Centrão não vê o Gabinete de Segurança Institucional como uma fonte de
bons negócios. De mais a mais, Bolsonaro já não dá ouvidos a Heleno. Prefere
dar ao delegado Alexandre Ramagem, chefe da Agência Brasileira de Inteligência,
subordinado ao general, mas que despacha diretamente com o presidente da
República.
Se gritar pega Centrão não fica um, meu
irmão, porque quase todos já terão corrido para o governo.
General Luiz Eduardo Ramos mendiga por um
gabinete no Planalto
O Lado A e o Lado B do ministro que em
breve perderá a chefia da Casa Civil da Presidência da República
Um deputado federal do Nordeste, cria do
Centrão, diz ter ouvido, ontem, do general Luiz Eduardo Ramos, por enquanto
ainda chefe da Casa Civil da Presidência da República, o desabafo espontâneo e
bem-humorado que segue:
“É como se estivesse
transando com a mais gostosa mulher da minha vida, e na hora do gozo tivesse
sido obrigado a parar”.
[Essa é uma versão bem comportada do
desabafo que o general, compreensivelmente, negará se considerar oportuno.]
É também o Lado B do que ele declarou ao
jornal O Estado de S. Paulo. Apesar de ter conversado com o presidente Jair
Bolsonaro na tarde da última segunda-feira, Ramos não fazia a menor ideia de
que seria demitido da Casa Civil.
“Eu não sabia, estou em
choque. Fui atropelado por um trem, mas passo bem.”
Ramos só ficou sabendo ontem, primeiro pela
imprensa, segundo por Bolsonaro. Os dois são amigos há mais de 40 anos.
Conheceram-se como alunos da Academia Militar das Agulhas Negras. Ramos
abandonou a farda antes do tempo para servir ao governo.
E agora? Bem, agora, como Bolsonaro nada
lhe confirmou sobre sua eventual ida para a Secretaria-Geral da Presidência no
lugar do ministro Onyx Lorenzoni, Ramos adianta, humilde e suplicante:
“O presidente é ele, eu sou
soldado, cumpro missão. Aprendi, em 47 anos de vida militar, que soldado não
escolhe missão. Se ele me der outra no governo, eu aceito”.
É um claro pedido de emprego – no caso, de
um inferior ao que tinha, mas não importa. O que importa para o general é que o
novo emprego tenha como endereço o Palácio do Planalto. Ramos não quer perder a
proximidade com Bolsonaro. Gosta muito dele.
Uma coisa Ramos não admite: que façam
“fofoca” ou publiquem que ele está caindo por incompetência ou por ter inimigos
e sofrer pressões no Congresso, segundo revelou ao Estadão:
“Isso, não. Eu estava, aliás,
ainda estou muito feliz na Casa Civil e dei o melhor de mim. Tanto que estou
recebendo telefonemas de parlamentares de vários partidos, em solidariedade”.
Então, por que a troca? Resposta do
general:
“Por motivos políticos,
óbvio. Se eu estivesse sendo trocado por alguém formado em Oxford, ou Harvard,
tudo bem, poderiam dizer que falhei. Mas é por um político aliado do
presidente, é assim que funciona”.
Afastado do Exército nos anos 1980 por
indisciplina, o ex-capitão Bolsonaro emprega mais de 8 mil militares da reserva
e da ativa no seu governo, mas não esconde sua predileção por demitir generais
e oficiais de alta patente das três Armas.
Demitiu Santos Cruz da Secretaria de
Governo a conselho do seu filho Carlos. Demitiu numa conversa de 10 minutos o
general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. Demitiu os comandantes
do Exército, Marinha e Aeronáutica
Demitiu o general Eduardo Pazuello do
Ministério da Defesa, e depois o empregou numa assessoria de coisa nenhuma no
Palácio do Planalto só para tê-lo sob controle. Demitiu Juarez de Paula, dos
Correios, e Franklimberg Freitas, da Funai.
De volta ao Lado B do desabafo de Ramos:
ele estava indignado.
“Todo mundo me disse que não deveria confiar nele.”
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