O Estado de S. Paulo
É fundamental dispor de um ambiente legal e
regulatório que propicie leilões competitivos
Estimular a atração de capital estrangeiro
é um passo importante rumo à recuperação da economia brasileira. O ano de 2020
foi atípico e causou muitos danos à atividade econômica. No setor petrolífero,
a retomada dos leilões é fundamental, mas a modernização regulatória é condição
insubstituível para atrair empresas e concorrência. Por isso o Congresso Nacional
deveria tornar viáveis propostas capazes de atrair esses investimentos.
Nesse sentido, o Projeto de Lei 3.178/2019
flexibiliza a adoção dos regimes jurídicos no pré-sal, autorizando o governo a
escolher o regime de exploração mais atrativo do ponto de vista econômico e
social.
O isolamento social imposto pela pandemia
provocou uma queda drástica na demanda global de petróleo. O preço do barril,
que já estava pressionado pelo excesso de oferta, caiu ainda mais. As grandes
empresas do setor viram seus ganhos despencar em 2020. O lucro da francesa
Total caiu 66%. A britânica BP relatou seu primeiro prejuízo líquido anual em
uma década: US$ 20,3 bilhões. Nos EUA, a gigante Exxon Mobil fechou o ano com
prejuízo líquido de US$ 22,44 bilhões. As fortes perdas, somadas ao cenário
adverso, frearam o apetite das petroleiras para investir em novas áreas
exploratórias, tornando-as mais seletivas e avessas a risco de curto e longo
prazos.
A pandemia também acelerou a velocidade da transição energética, encolhendo a importância dos combustíveis fósseis na matriz energética mundial. No fim do ano passado, oito das maiores empresas globais de energia acordaram em seguir princípios comuns para a transição energética e se comprometeram a apoiar os objetivos do Acordo de Paris. As gigantes do petróleo já apresentam agendas verdes e se comprometeram a reduzir a intensidade de carbono nos produtos relacionados a energia, bem como a aumentar seus investimentos em energias renováveis, além de investirem mais em novas tecnologias. Mas o petróleo ainda tem caminho pela frente.
O avanço da imunização contra o coronavírus
está tornando cada vez mais próxima a perspectiva da retomada da atividade
econômica, e o petróleo ainda é (e será por algum tempo) a principal fonte de
energia global. Em meio à recente recuperação dos preços no mercado
internacional, as petrolíferas começam a ganhar confiança para avançar com
novos projetos. Para os especialistas, o preço do óleo retomará os US$ 100 por
barril com o fim da pandemia.
Os investimentos em exploração e produção
vão continuar, embora em cenário de maior competição entre áreas produtoras de
petróleo. O Brasil é muito atraente do ponto de vista geológico, mas precisa de
um sistema regulatório apropriado para o atual cenário da economia global. Na
época da descoberta do pré-sal, o baixo risco exploratório e a expectativa de
grande rentabilidade dos campos serviram de justificativa para a adoção do
regime de partilha, em substituição à concessão na nova fronteira exploratória.
O País levou seis anos sem leilões para
escolher um novo regime jurídico para exploração e produção do pré-sal. Vale
lembrar que da realização do leilão até a exploração e produção há um longo
caminho. Do início da exploração, levam-se cinco anos ou mais para o início de
produção, campo esse que pode produzir por mais de 30 anos.
As premissas que justificavam o regime de
partilha já não se aplicam a todas as áreas Resultados negativos derrubaram o
mito do baixo risco exploratório, reforçando o argumento da necessidade de
mudanças no modelo de leilões. Em abril foi anunciada a devolução da área conhecida
como Sudeste de Libra, tida como de baixo potencial. Essa devolução não foi a
primeira do pré-sal: um consórcio com participação da Petrobrás também devolveu
o bloco Peroba, arrematado por R$ 2 bilhões em 2017.
Precisamos adaptar o Brasil às circunstâncias.
No mercado interno, já não existem reservas tão grandes quanto as do campo de
Búzios. No mercado externo, a condição imposta pela pandemia restringiu a
capacidade de investimento das petroleiras. Por isso é fundamental dispor de um
ambiente legal e regulatório que propicie a volta dos leilões com
competitividade.
Em levantamento feito pela consultoria Wood
Mackenzie, especializada em recursos naturais, o modelo de partilha do Brasil
ficou na lanterna da competitividade global do setor de petróleo, com retorno
esperado para o investidor de apenas 5%. Assim, a mudança na legislação pode
representar a evolução dentro das perspectivas de segurança jurídica e respeito
dos contratos vigentes.
A liberdade de escolha do melhor regime é o
ponto crucial. Com a flexibilização proposta no PL, o Conselho Nacional de
Política Energética fica livre para definir qual é o regime mais vantajoso,
antes de licitar cada bloco. As novas regras maximizam a arrecadação nos
certames, graças à maior competição.
O setor de petróleo tem papel fundamental na superação da crise econômica e sanitária, mas depende de um ambiente regulatório mais favorável para a realização de novos leilões do pré-sal. Tenhamos sempre presente: a retomada da economia passa, necessariamente, por investimento e geração de empregos na indústria petroleira no Brasil.
*Senador (PSDB-SP)
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