Correio Braziliense
Ciro Nogueira está entre os
camaleões do Congresso. Na internet, circula um velho vídeo no qual o
presidente do PP elogia Lula e chama o presidente Bolsonaro de fascista
Pressionado por uma conjuntura desfavorável
— inflação em alta, desemprego em massa, denúncias de corrupção na Saúde,
desgaste político por causa do número de mortos por covid-19 e crescimento dos
protestos de rua contra o governo —, o presidente Jair Bolsonaro decidiu
reestruturar seu estado-maior e convidou para assumir a chefia da Casa Civil o
senador Ciro Nogueira(PI), presidente do PP, o principal partido do Centrão.
Ocupará o lugar do general Luiz Ramos, que será transferido para a
Secretaria-Geral da Presidência. Bolsonaro teme perder a maioria no Senado,
onde a CPI da Covid devassa a atuação do governo no combate à pandemia do novo
coronavírus.
Nogueira está entre os camaleões do Congresso, mantendo-se sempre na base dos governos, qualquer governo. No mesmo dia em que Bolsonaro anunciou que pretende mexer na sua equipe, circulou na internet um vídeo no qual o senador piauiense faz os maiores elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chama Bolsonaro de fascista. Entretanto, em 2018, aliou-se a Bolsonaro e, desde então, trabalha intensamente para que o presidente da República se filie ao PP e concorra à reeleição pela legenda. O Progressistas é hoje um dos principais partidos do Congresso, com sete senadores e 44 deputados federais, entre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Pelas atribuições da pasta, Nogueira será o
ministro mais poderoso do governo. São responsabilidades da Casa Civil
coordenar e integrar as ações governamentais, analisar os projetos em
tramitação no Congresso, monitorar e avaliar a atuação dos demais ministros,
coordenar as políticas públicas do governo e formular projetos. Sua função mais
importante, porém, será mesmo rearticular a base política do governo no
Congresso e costurar alianças para a reeleição, com a ajuda do Diário
Oficial, obviamente. Com a colaboração de Flávia Arruda (PL-DF), ministra
da Secretaria de Governo, que faz a articulação política com a Câmara, Nogueira
terá que reestruturar a atuação do Executivo no Senado, onde o atual líder do
governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), está enfraquecido e enfrenta
forte oposição de alguns caciques do MDB, entre. os quais o relator da CPI
da Covid, senador Renan Calheiros (AL), e o líder da bancada, senador
Eduardo Braga (AM).
A mudança na Casa Civil foi precipitada
pela necessidade de aprovação pelo Senado do nome de André Mendonça,
ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), para a vaga do ministro Marco
Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF); outro que também depende de
aprovação dos senadores é o procurador-geral da República, Augusto Aras, que
está sendo reconduzido ao cargo por Bolsonaro. Com a sua popularidade em baixa
e a atuação da CPI da Covid com ampla aprovação da opinião pública, Bolsonaro
resolveu reforçar seu dispositivo parlamentar. Ainda mais porque não considera
confiável o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sobretudo depois de
o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ter anunciado a intenção de lançar a
candidatura do senador mineiro à Presidência em 2022.
Consolação
Defenestrado da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) deve
ganhar um novo cargo na Esplanada, a ser criado por Bolsonaro, com a
reestruturação do Ministério da Economia. Lorenzoni é um dos responsáveis pela
desastrada atuação do governo na CPI da Covid, ao lado do coronel “faca
ensanguentada” Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde,
agora todo enrolado no caso da tentativa de compra de vacinas supostamente
superfaturadas.
Docemente constrangido, o ministro Paulo Guedes anunciou o desmembramento das atividades de seu ministério ligadas à geração de emprego e renda e à Previdência. Livrou-se do seu maior abacaxi, depois da inflação: as altas taxas de desemprego no país. O anúncio da recriação do Ministério do Trabalho e Previdência, com o deputado gaúcho à frente, ocorre às vésperas de manifestações contra Bolsonaro, convocadas pelas centrais sindicais e outras organizações, inclusive partidos de oposição, para o próximo sábado, dia 24. Lorenzoni é um bolsonarista-raiz, com pouco jogo de cintura para lidar com com sindicalistas e neófito na área de geração de trabalho e renda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário