O Globo
Era previsível. Tão logo o nome do senador
Ciro Nogueira (PP-PI) surgiu como cotado para o cargo de ministro-chefe da Casa
Civil, começaram a circular na internet vídeos recuperados de outras
fidelidades do senador. Em 2017, ele definiu Bolsonaro como “fascista e
preconceituoso” e disse que o melhor presidente do Brasil foi Lula. Quem não se
lembra de como ele seguia de forma canina os governos petistas? O senador Ciro
Nogueira é um camaleão, um político leal ao governo. Qualquer governo.
Há outros invertebrados assim no centrão,
grupo ao qual Bolsonaro sempre pertenceu. E o presidente pode até trocar seu
escolhido, buscando o mesmo objetivo. O que ele quer ao preparar mudanças no
Ministério? Bolsonaro quer se blindar, porque seu governo está ficando mais
frágil pela queda da aprovação em todas as pesquisas de opinião, pelos erros
que cometeu, pelo que vem sendo revelado na CPI de criminosas ações e omissões
e indícios de corrupção. Por isso ele está aprofundando ainda mais a entrega do
governo ao centrão, principalmente ao PP, partido ao qual pertenceu.
Vamos lembrar, Bolsonaro está sem partido há tempo demais e enfrenta resistências até em pequenas legendas. Precisará de um partido para disputar a reeleição. Quem sabe volta à velha casa? O movimento em direção ao PP também serve para bajular mais um pouco o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dono da chave da gaveta onde aguardam 126 pedidos de impeachment.
Há objetivos primários e secundários nessa
reforma. Bolsonaro quer, por exemplo, instalar seus amigos que não deram certo
em outros postos. Onyx Lorenzoni foi péssimo chefe da Casa Civil. Não
coordenava, não articulava, não administrava. Por isso foi para o Ministério da
Cidadania. Lá teve uma oportunidade de apresentar serviço diante da crise
social provocada pela pandemia, mas o auxílio emergencial teve seu formato
desenhado no Congresso, e ele cometeu todos os erros possíveis na
implementação. Voltou ao Palácio e na Secretaria-Geral da Presidência foi o
protagonista de um vexame. Deu uma entrevista exibindo os invoices da Precisa,
fazendo ameaças às testemunhas da CPI e afirmando que era fraudado um documento
cujo original estava no site do Ministério da Saúde. Enfim, não deu certo em
cargo algum. Agora pode ser instalado na recriação do ministério do emprego.
Ontem, o ministro Paulo Guedes, com o seu
já conhecido servilismo, anunciou a recriação do Ministério do Trabalho como
uma boa notícia. “Tem novidade chegando, tem novidade inclusive na nossa
organização estrutural. Vamos fazer uma mudança organizacional também. São
novidades que o presidente deve trazer em breve.” A verdade é: o Ministério da
Economia desidrata. E isso poderia ser uma boa notícia se o novo ministério
fosse formular políticas eficientes de emprego num país que tem quase 15
milhões de desempregados e seis milhões de desalentados. Mas o naco que sai da
Economia vai servir apenas para acomodar um aliado trapalhão.
E por falar em trapalhadas, outra mudança
seria para encontrar um lugar para instalar o ministro que também já se saiu
mal em outras cadeiras, o general Luiz Eduardo Ramos. Simples, ele fica com a
cadeira vaga com a saída de Onyx.
As reformas ministeriais de Bolsonaro não
têm qualquer propósito sério de aumentar a eficiência da administração. Até
porque, convenhamos, ele não administra. O país está há longos dois anos e sete
meses nas mãos de um presidente que ataca, agride, passeia, mente, exibe os
piores sentimentos, conspira contra a democracia. Lembrem-se daquela reunião do
dia 22 de abril de 2020. No começo da aterradora realidade de uma pandemia,
Bolsonaro se preocupava em radicalizar a liberação de armas.
Esses primeiros movimentos que apareceram
ontem como um ensaio da minirreforma, ainda que não se confirmem, mostram bem a
forma de governar e os propósitos do presidente. Ele é um governante em busca
de blindagem porque sabe que tem que prestar contas. Ele gosta de descolar um
lugarzinho para os amigos que nunca o contestam, como Onyx e Ramos. Ele jamais
cumpriu o prometido a Paulo Guedes. Várias vezes desautorizou o suposto
superministro, várias vezes o fez defender o indefensável, e agora o faz
engolir a perda de uma parte do Ministério.
Guedes não se importará. Ele nunca se
importa seja qual for o tamanho da ofensa que o presidente lhe faça. Como disse
naquele dia na reunião, o projeto é reeleger o presidente.
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