O Estado de S. Paulo
Parte dos empresários viu calada os ataques à democracia na aposta de que reformas seriam a salvação
O presidente Jair
Bolsonaro, Arthur Lira e
os líderes governistas, ao menos publicamente, deram de ombros ao manifesto de
empresários e personalidades em defesa da urna eletrônica e da realização de
eleições em 2022.
Segue a sequência: Bolsonaro reagiu subindo
o tom com novos ataques aos ministros do Supremo (Luís Roberto
Barroso e Alexandre de
Moraes) e à urna eletrônica.
Lira desdenhou e disse que não viu o
comunicado. O líder do governo na Câmara, Ricardo
Barros, alardeou que a proposta do voto impresso, derrotada na
comissão, pode ser analisada pelo plenário no final da próxima semana.
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério
Marinho, político tradicional que sempre teve bom trânsito como
mercado financeiro e empresarial, foi para as redes sociais lançar suspeitas
sobre o sistema eleitoral.
Os partidos do Centrão – PSL, PP, Podemos, PTB e
o Republicanos (partido da Igreja
Universal) – marcaram posição na comissão indicando o voto
favorável. O DEM quase liberou a bancada. E o Novo,
partido alinhado a setores empresariais, liberou os seus deputados a votarem
como quiserem.
Por ora, a expectativa dos articuladores é de que a pressão social tenha os mesmos efeitos da carta dos 500, lançada em março e assinada também por nomes de destaque do PIB e que fez o Congresso cobrar, e o governo se mexer para comprar as vacinas.
Ninguém duvida do peso dos nomes que
assinaram o documento. Os primeiros sinais que partiram dos governistas, porém,
não são os mais animadores para o movimento “Eleição se Respeita” dos
empresários e da intelectualidade. Os articuladores dizem que político não
passa recibo em público. Acuado, o presidente ficou ainda mais agressivo e
dobrou a aposta.
O movimento terá que encorpar e se
fortalecer com canais muitos diretos de pressão junto aos congressistas. O
cenário mudou tão rapidamente que o manifesto do basta não será suficiente. É
pouco, se quiserem fazer a diferença.
De fato, alguns dos signatários já
começaram a botar a boca no trombone, como o ex-presidente da Febraban Fabio Barbosa,
que em entrevista ao Estadão perguntou: “Vamos ficar quietos
assistindo a isso aqui, ou vamos participar e colocar nosso ponto de vista?”.
CEO do Credit Suisse
Brasil, José Olympio Pereira disse ao jornal O Globo que
a “fervura aumentou, e o sapo está na panela. Temos de pular enquanto é tempo”.
Mas foi o presidente da Suzano, Walter
Schalka, que tocou num ponto central ao reconhecer que o meio
empresarial se omitiu por muito tempo por receio de retaliação do Estado, que
cuja presença na economia representa cerca de 40%. Que gritem mais alto.
No início de janeiro, esta coluna, num dos seus textos mais lidos,
apontava o desconforto com o silêncio da elite empresarial brasileira naquela
semana, em que o colapso do sistema de saúde de Manaus e
o risco de uma crise nacional de falta de oxigênio assombraram o País.
Esta colunista perguntava: Por que se calam aqueles que costumam ser tão
barulhentos? Na elite do nosso empresariado, não tem dia D nem hora H. É S, de
silêncio.
O manifesto dos 500, em março, quebrou a
paralisia contra o negacionismo do governo no combate à pandemia. O movimento
desta semana saiu em defesa da democracia. Mas é fato que boa parte dos
empresários assistiu calada ao que estava acontecendo, na aposta que as
reformas seriam salvadoras.
Aliás, é com essa promessa que Lira seguiu
impondo um ritmo frenético de votações, sem debate, tentando ofuscar o Senado,
onde a CPI da Covid ganhou protagonismo.
O que se viu nesta semana no Congresso é
que as reformas e projetos com grande impacto nas contas públicas, como o Refis, a PEC dos precatórios, o do Imposto de
Renda e medidas eleitoreiras que abrem geral o cofre, vão
passar na base do tratoraço com o Centrão bem
remunerado pelas emendas de relator do orçamento secreto. O mercado sentiu o
baque. Juros e risco subiram.
O termômetro do poder de pressão do manifesto dos empresários junto aos deputados será dado na votação da PEC do voto impresso no plenário. Lira avisou que vai pautá-la. A essa altura, o presidente da Câmara já sabe os votos que tem a favor da mudança. Se a PEC passar, terá ignorado o manifesto do PIB. Sabendo desse risco, o movimento quis mesmo é dar um sinal direto ao Senado. Eles avaliam que é Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, quem tem o maior poder de impedir o avanço da pauta retrógrada.
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