Um dos maiores obstáculos à solução destes
graves problemas reside em nosso confuso, injusto, complexo e ineficiente
sistema tributário. O sistema tributário ideal deve que ser justo e simples. O
nosso, é classificado pelos organismos internacionais como um dos piores do
mundo, não é simples e não é justo, já que os mais pobres pagam
proporcionalmente mais impostos.
Nas gestões de Rodrigo Maia e Davi
Alcolumbre, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, de 2019 a 2020,
avançamos bastante na discussão de duas propostas de emendas à Constituição
Federal: a PEC 45 e a PEC 110. A primeira focada na criação de um IVA nacional
substituindo os diversos impostos sobre o consumo, a outra, mais ampla e
completa, abordando também aspectos da tributação sobre a renda e o patrimônio.
Com a troca do comando nas duas casas
legislativas, em 2021, voltamos à estaca zero. Houve uma opção por sepultar as
duas PECs e reiniciar a discussão a partir de dois projetos de Lei, o PL
3887/2020, que instituí a Contribuição Social sobre Operações com Bens e
Serviços (CBS), a partir da unificação apenas dos tributos federais, PIS e
COFINS, e o PL 2337/2021, prevendo alterações no Imposto de Renda.
A ausência de uma visão clara do Governo Federal e do Ministério da Economia sobre a reforma tributária contribuiu decisivamente para essas idas e vindas.
A alternativa pelo fatiamento da reforma
não é boa. Embora uma reforma mais ampla e ousada seja mais difícil
politicamente, permite uma visão de conjunto e compensações internas na
orquestração dos diversos tributos.
A reforma fiscal desejada e necessária,
onde a tributária é um componente, deveria começar pelo lado das despesas
públicas, com a redefinição do tamanho do Estado (privatizações, concessões,
PPs, fechamento de órgãos desnecessários) e de seus custos (reforma
administrativa). O Governo e o Congresso mostraram pouca disposição de
percorrer este roteiro.
O PL 3887/2020, que cria a CBS, encontra-se
em “banho-maria” e enfrenta fortes arguições quanto à sua constitucionalidade.
Já o PL 2337/2021, que trata do Imposto de Renda e a direção da Câmara dos
Deputados quer votar de afogadilho, sofre, após a divulgação do substitutivo do
relator, Deputado Celso Sabino, forte resistência da indústria, dos serviços e
do agronegócio. E também de estados e municípios, que terão perdas calculadas
em 26 bilhões de reais por ano.
Do jeito que está, não alcançaremos os
objetivos centrais. Haverá aumento de carga tributária. Não haverá
simplificação, já que a criação do IVA nacional foi abandonada. Não haverá o
fim da famigerada guerra fiscal, já que não se introduz a cobrança do IVA no
destino. Não haverá equidade social, já que não se encaminha a transição do maior
peso hoje dos impostos sobre o consumo para a tributação da renda e do
patrimônio. Não haverá desoneração dos investimentos e da criação de empregos,
ao contrário, a CNI identifica um aumento de 34% para 41,2% sobre investimentos
produtivos. Não se avançará na eficiência.
Tudo indica que a via crucis da tão sonhada
reforma tributária está apenas começando.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal
(PSDB-MG)
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