Folha de S. Paulo
CPI da Covid jogou luz sobre novos
personagens de um submundo de crimes e trambiques
A maior concentração de vigaristas por
metro quadrado da Esplanada gravitou (gravita?) em volta do Ministério da Saúde
no momento
em que mais precisávamos de gente séria e especializada para salvar as
nossas vidas e as de parentes e amigos.
Os holofotes da CPI da Covid no Senado jogaram luz sobre novos personagens, mostrando como se conectam as engrenagens de um submundo de crimes e trambiques em torno das grandes compras e aquisições do governo Bolsonaro. Constata-se que havia um ministério subterrâneo, operado por “facilitadores”, autodefinição de Airton Soligo, assessor do então ministro Eduardo Pazuello.
Soligo —que tem o sugestivo apelido de
Cascavel— atuou durante dois meses sem nomeação oficial, sem agenda pública,
sem assinatura de atos. Uma atuação clandestina e muito conveniente para quem
não quer deixar rastro nem prestar contas a ninguém, a não ser ao chefe.
Outro “facilitador” é o reverendo
Amilton Gomes de Paula, que abria portas com impressionante facilidade e
rapidez para negociar vacinas de vento. O repórter Lúcio de Castro, da agência
de jornalismo SportLight, mostrou que Amilton
tem conexões com uma complexa rede de entidades fantasmas.
Uma delas, aberta na Flórida, nos EUA,
registrou como diretores Bolsonaro, seu vice, Hamilton Mourão, o ex-ministro da
Defesa Fernando Azevedo e Silva e um certo tenente coronel capelão Roberto
Cohen. Tem todo jeito de ser picaretagem. A Presidência deve explicações, mas
até agora não se manifestou.
O enredo de terror tem ainda mais um
militar, o coronel Marcelo Blanco, que deixou o ministério, criou uma empresa
de representação na área médica e também facilitou
um atalho para o notório cabo Dominguetti.
Tais personagens ajudam a explicar como
chegamos a ter 4.000 brasileiros mortos por dia de Covid. Hoje ainda choramos
mil mortes diárias. É como se quatro aviões caíssem todos os dias. Sem nenhum
sobrevivente.
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