O Globo
Ato em 7 de setembro pode ser gigante, pode
ser barulhento, mas não vai funcionar; Bolsonaro nunca esteve tão solitário
O resultado da maior
mobilização popular já convocada em favor de Jair Bolsonaro e contra a
democracia, marcada para o 7 de setembro, servirá paradoxalmente para isolar
ainda mais o presidente com os seus radicais e o que resta do grupo parlamentar
fisiológico que ainda lhe dá sustentação. Dois terços da população brasileira
já disseram não aos seus atos criminosos reiterados. As pesquisas mostram que
sua degradação se mede na casa de dois pontos ou mais por levantamento (no
último, PoderData de 1º de setembro, perdeu cinco pontos para Lula). Agora,
Bolsonaro viu empresários e banqueiros lhe virarem as costas através dos
manifestos de diversos setores em favor da democracia e contra a aventura
golpista do presidente.
Pode ser gigante, pode ser
barulhenta. Mas não vai funcionar. Bolsonaro nunca esteve tão solitário. Todo
governante começa a perder apoio no dia seguinte à sua posse. Alguns se
recuperam e voltam a crescer, como ocorreu com os três presidentes que se
reelegeram, com destaque para Lula que saiu mais forte do que entrou. Nenhum
dos três, contudo, dinamitou pontes antes da reeleição. FHC queimou seu capital
político no segundo mandato. Dilma, que maquiou os números da economia no
primeiro mandato, foi descoberta no segundo e deu no que deu. Bolsonaro
desmilinguiu-se antes de completar três anos de governo.
Com o desembarque do PIB nacional da aventura, o capitão terá que seguir com parlamentares fisiológicos, que se fingem de patriotas e que dizem pensar na nação quando defendem uma solução com Bolsonaro, com os radicais organizados, com os ignorantes políticos e com os antipetistas que só enxergam corrupção e comunismo quando miram a estrela vermelha. Mais grave para o presidente é que os manifestos em favor da democracia assinados pela Febraban, por sete entidades do agronegócios e outros setores organizados da economia apontam para uma fadiga que vai alimentar de maneira vigorosa daqui em diante a busca pela terceira via. Por um candidato que possa enfrentar Lula em condições de ganhar a eleição presidencial.
Sim, porque quem quer
que seja este candidato, ele não entrará em campo para tirar Lula do segundo
turno, mas sim para afastar Bolsonaro. A ideia de buscar um nome que pudesse
substituir o petista no segundo turno vem se dissipando na medida em que Lula
consolida seu poder eleitoral. Com as seguidas quedas de popularidade do
presidente, e com este grito antidemocrático e golpista armado para o 7 de
setembro, o objetivo agora é expurgar o atual ocupante da cadeira presidencial
da disputa derradeira de 2022. Bolsonaro virou alvo porque é estúpido. Ele
mesmo construiu o caminho que o trouxe até aqui.
Os candidatos lançados para
ocupar este espaço (Ciro Gomes, João Doria, Eduardo Leite, Luiz Mandetta e
agora Alessandro Vieira e Datena) terão um trabalho difícil pela frente, mas
não impossível. Não é fácil derrotar um candidato à reeleição, ainda mais no
primeiro turno. Nos Estados Unidos, apenas 11 dos 45 presidentes não
conseguiram um segundo mandato. No Brasil nunca ocorreu. Os pré-candidatos de
direita, centro-direita e centro-esquerda vão precisar formar uma ampla aliança
em torno de projetos que sejam distintos dos do PT, embora da mesma forma
inclusivos. Até Ciro pode ocupar este espaço, embora as concessões que terá de
fazer acabarão por desfigurar sua candidatura.
A chance desta terceira via
ter sucesso defenestrando Bolsonaro aumentou muito com a convocação para a
parada golpista, e é aí que reside o paradoxo. Ela trouxe para o campo de jogo
o capital nacional. Sem este apoio, Bolsonaro fica obviamente muito mais fraco.
Os parlamentares que ainda o acompanham saberão medir de que lado será melhor
se situar num futuro muito breve. E os conservadores e liberais brasileiros,
muitos deles marcharão no 7 de setembro em apoio a Bolsonaro, terão uma opção
fora do PT para seguir. Aí, poderão esclarecer se querem mesmo construir um
país democrático ou preferem seguir um lunático.
Bom pai
Primeiro foram as rachadinhas, que
começaram no gabinete de Jair e se espalharam pelos escritórios dos filhos
parlamentares. Depois do Zerinho senador, agora o Zerinho vereador foi apanhado
em flagrante delito. Não bastasse isso, aquela vontade de levar vantagem em
tudo, como desviar dinheiro do auxílio moradia “para comer gente”, se esparrama
entre todos os entes da família Bolsonaro. O filhote Jairzinho foi outro
que entendeu bem a aula paterna,
a ponto de se alinhar a um lobista investigado pela CPI da Covid (Marconny
Albernaz, aquele que inventou uma doença e depois se escondeu para não depor)
para abrir uma empresa de eventos e fazer tretas. Este também, como o
primogênito da família, arrumou uma mansão para chamar de sua em Brasília. Não
se pode negar que o presidente seja um “bom” pai. Tudo o que sabe, passou para
os filhos. Dos métodos políticos ultradireitistas até as pequenas falcatruas do
dia a dia.
Cara de bobo 1
O que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal têm contra a democracia? Ao tentar sem sucesso dinamitar o manifesto em
favor da harmonia entre os Poderes, o torpedeador-chefe, Pedro Guimarães,
presidente da CEF, ameaçou bancos privados com retaliações se o manifesto, já
redigido e conhecido, fosse publicado. Guimarães é o mais frequente papagaio de pirata das
lives presidenciais. Fica sempre ali, ao lado de Bolsonaro, rindo com aquela
cara de bobo e aplaudindo todas as barbaridades proferidas pelo chefe. Quer ser
seu vice na chapa de 2022. Naufragando, como tudo indica, imagina-se que vai
buscar emprego no mercado financeiro, este mesmo que ele ameaçou por assinar o
manifesto democrático.
Cara de bobo 2
André Esteves, do BTG, mostrou que se pela
de medo de retaliações governamentais.
Por que? Não sei. Segundo a jornalista Malu Gaspar, ele tentou “desfazer” a
adesão da Febraban ao manifesto em favor da democracia. Agiu internamente
contra o manifesto quando CEF e BB ameaçaram deixar a entidade se o documento
saísse. Depois que o documento saiu, os bancos oficiais recuaram e Esteves
ficou com o mico na mão. Pode dar emprego para seu amigo Pedro em 2022.
Momento pub
Não deixe para amanhã, compre hoje ainda
mais uma arma para a sua defesa e segurança. Aproveite a legislação em vigor
e amplie seu arsenal.
Atenção, uma hora esta lei vai mudar. Compre agora o seu fuzil e tenha certeza
que um dia ele vai estar sendo usado em Araçatuba. Ou na Rocinha.
Vossa senhoria
O brasileiro da camada de cima, por mais
cordial que seja, trata de maneira desigual seus conterrâneos. Os mais
abastados merecem salamaleques. Os mais humildes ganham no máximo um respeito condescendente.
Isso ocorre por toda parte. Vejam o caso do motoboy Ivanildo Gonçalves da
Silva, na CPI da Covid. O tratamento dispensado a todos os depoentes sem cargo
público foi de “vossa senhoria”. Alguns senadores até se enganavam, mas para
cima, chamando o depoente sem função de “vossa excelência”. Aí chegou o
Ivanildo. Ele foi tratado de “senhor” por todos os senadores. Diversos se
enganaram, mas para baixo, tratando o motoboy por “você”. Agora, me diga, qual
a diferença entre Carlos Wizard e Ivanildo Gonçalves da Silva, além de um ser
branco e rico e o outro preto e pobre?
Espanhol obrigatório
A deputada estadual Juliana Brizola (PDT)
pediu e o Ministério Público do Rio Grande do Sul instaurou inquérito para investigar o governador e
pré-candidato a presidente Eduardo Leite por descumprimento de preceito da
constituição estadual estabelecido por emenda da deputada em 2018. Pela emenda,
as escolas públicas gaúchas são obrigadas a oferecer aulas de língua espanhola
aos alunos, determinação que Leite não efetivou. O argumento é simples e faz
sentido. O estado tem extensa fronteira com Uruguai e Argentina, são 1774
quilômetros e 27 cidades nas divisas.
Brasil no passado
Brasileiro que vive no exterior e precisa
de serviços consulares, como registrar nascimentos, casamentos e óbitos, tem
que fazê-lo pessoalmente. Na era da informação, nenhum atendimento, a não ser
consultas, pode ser feito de maneira remota, via internet. Não é tão difícil
para quem mora em cidades estrangeiras em que haja base consular brasileira. O
problema são as outras cidades, como Darwin, na Austrália. Se um brasileiro
vier a morar lá e precisar de um serviço consular, terá de viajar 4.400 quilômetros até
Perth. Se pudesse, com certeza este nacional pegaria um voo até Dili, no Timor
Leste, 720 quilômetros ao norte, para resolver seu problema.
Greve geral
Já tem gente pensando na melhor forma de dar o troco ao 7 de setembro antidemocrático. Convocar uma greve geral em favor da democracia e contra o golpismo instalado no Palácio do Planalto. Tarefa difícil, mas levando-se em conta que os partidos de esquerda ainda mandam na maioria dos sindicatos e das federações sindicais, vai que cola.
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