O Globo
Tomara que o prefeito do Rio, Eduardo Paes,
esteja certo. Ao contrário de um monte de gente que teme pelo pior com as
manifestações bolsonaristas do 7 de Setembro, Paes disse para a Malu Gaspar:
“Posso estar absolutamente cego, equivocado. Mas minha impressão é que não vai
ter nada. Vai ter uma cota grande de irresponsáveis, que defendem teses
estapafúrdias, golpe militar, AI-5. Nem eles sabem do que estão falando, essa é
a verdade”.
Seria o melhor para o país e, claro, o pior
para Bolsonaro e sua turma, incluída a família. E o que seria o pior para o
país? Motins de policiais militares e caminhoneiros tentando parar tudo.
Se a gente lembrar que o então deputado
Jair Bolsonaro já apoiou motins e baderna de caminhoneiros, parece claro que há
uma chance de se realizar esse pior cenário. O presidente colabora para isso
todo dia.
O que fazer para impedi-lo?
Primeiro, os governadores estaduais têm uma
tarefa crucial: manter o controle sobre suas PMs, mandando os policiais para a
rua para evitar a baderna, e não para ajudar os golpistas.
Parece óbvio dizer isso. E é mesmo.
Mas não é também uma obviedade quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, neste caso representando outras autoridades, diz que não se negocia a democracia?
Eis o ponto a que chegamos. Presidentes de
instituições da República, líderes políticos, empresários, banqueiros, membros
de destaque da sociedade civil e do mundo econômico precisando vir a público
para defender a democracia e a paz entre os Poderes.
Isso era para ser um ambiente dado por
todos. Aqui é democracia e ponto final. Os governadores mandam nas PMs e ponto
final.
Mas é por causa do presidente Bolsonaro. Em
vez de governar e de lidar com uma sequência de dificuldades econômicas, ele
passa o tempo estimulando seus golpistas e sua tropa de choque.
Ainda assim, nos diversos manifestos e
pronunciamentos em prol da democracia, muita gente tem medo de dizer que se
trata, sim, de uma crítica e uma resposta explícita aos desatinos
bolsonaristas.
Isso vale para boa parte do PIB. A turma
aqui se dividiu. Pode-se dizer que a ampla maioria já desembarcou do governo
Bolsonaro e do assim chamado liberal Paulo Guedes. Parte desse grupo,
entretanto, ainda não assumiu.
Sabe como é. A economia brasileira tem
muito Estado e, pois, muito negócio com o governo federal e com as empresas e
bancos públicos. Daí a quase irresistível tendência governista de boa parte dos
representantes da produção e das finanças.
Vale para qualquer governo, de Lula e Temer
a Bolsonaro das eleições e dos primeiros meses.
Ocorre que Bolsonaro é tão ruim para o
país, a sociedade e a economia, que mesmo os mais governistas e mais temerosos
estão desembarcando dessa canoa.
Mas, assim como os governadores precisam
cumprir a tarefa básica de controlar as PMs, o PIB, a sociedade e as lideranças
políticas precisam conter as loucuras do presidente Bolsonaro.
Como?
Primeiro, dizendo isso clara e
publicamente. Segundo, recorrendo aos instrumentos disponíveis (impeachment,
denúncias nos tribunais, pressão no Legislativo, campanhas etc.).
Faltam três dias para o 7 de Setembro, e as
ameaças dos bolsonaristas. Há tempo para erguer uma barreira de contenção.
Necessária porque o presidente, sua
família, sua tropa estão sendo cercados por diversos lados. Correm os
inquéritos no STF, as investigações do Ministério Público sobre as rachadinhas,
funcionários-fantasmas e, pois, lavagem de dinheiro. Acrescente-se aí a CPI que
a cada dia descobre mais picaretagem e roubalheira em negócios com o governo,
especialmente na área da Saúde.
Na área da Saúde, gente. Ali mesmo onde se
deveria encontrar uma ação organizada para conter o vírus. Em vez disso, temos
o ministro da Saúde dizendo ser contra a exigência de certificado e do uso de
máscaras.
Passaram muito além do limite.
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