Desemprego elevado, pobreza gritante,
concentração de renda, educação e saúde sem qualidade e desiguais conforme a
renda e o endereço
Na próxima semana o Brasil atravessará o
último Sete de Setembro de seu segundo centenário como nação independente.
Olhando para trás, há do que se orgulhar: a consolidação do quinto maior
território do mundo, a sexto maior em população, a economia entre as dez
maiores, o país integrado pelo idioma, redes de assistência social, de saúde,
de educação, de comunicação, de transporte, uma moeda equilibrada e um sistema
político democrático.
Mas, olhando o presente, há razões para se
assustar: a economia em recessão persistente há anos, desemprego elevado,
pobreza gritante, concentração de renda, educação e saúde sem qualidade e
desiguais conforme a renda e o endereço, cidades degradadas, florestas
queimadas, rios moribundos, pessoas famintas, jovens emigrando, violência
generalizada, descrédito nas instituições. O primeiro ano do terceiro
centenário se inicia sob incertezas, em um clima de desconfiança em relação ao
futuro. O país atravessando um sentimento de decadência.
O Brasil precisa enfrentar seu novo século de história buscando coesão e rumo que permitam dar vigor econômico e promover inclusão social. Isto só ocorrerá se compormos propósitos unificadores, pactos olhando o futuro.
Pacto pela superação do vergonhoso quadro
de pobreza que caracteriza a realidade em que vive nossa população, também pelo
emprego e a distribuição de renda. Pacto pela eficiência econômica e para
garantir competitividade no mundo global, também pelo necessário avanço
científico e tecnológico. Pacto pela infância e pela educação de base com
qualidade para todos, sem distinção de gênero, cor, renda, endereço. Pacto pela
juventude, trazendo-lhe esperança, confiança e desejo de viver no Brasil e aqui
construir uma nação. Pacto pela paz nas ruas e pela convivialidade nas cidades.
Pela proteção de nossas riquezas naturais e culturais, a manutenção do valor de
nossa moeda, a garantia das liberdades e das instituições democráticas.
Se formos capazes disto, o terceiro
centenário será o tempo da consolidação da nação brasileira, tanto quanto os
dois séculos anteriores foram tempo de consolidação do território e da
infraestrutura básica. Se não formos capazes desta unidade nacional, caminharemos
para aprofundar a decadência das últimas décadas perdidas, podendo até mesmo
perder as conquistas até aqui. Sem um grande pacto nacional que unifique aquilo
que temos em comum, corremos o risco de sair da decadência para a desagregação
social e territorial. O terceiro centenário seria o último do Brasil Grande a
que temos direito de sonhar. Ainda!
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
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