O Globo
Há muita expectativa quanto à dimensão e às
consequências da manifestação em apoio a Bolsonaro no 7 de Setembro.
O principal temor é que o 7 de Setembro
possa ser uma espécie de 6 de janeiro brasileiro — manifestantes pró-Trump
invadiram o prédio do Congresso nos Estados Unidos naquele dia para tumultuar a
sessão que confirmaria a vitória eleitoral de Joe Biden. Cinco pessoas morreram,
e 138 policiais ficaram feridos.
Mas há diferenças importantes entre o 6 de
janeiro americano e o 7 de Setembro brasileiro. A principal delas é que a
invasão do Capitólio foi um movimento ousado, que tomou as autoridades de
surpresa.
Aqui, todos os piores cenários foram
antecipados pelas autoridades: a participação na manifestação de policiais
militares armados, o bloqueio de estradas por caminhoneiros e uma invasão ao
prédio do Supremo Tribunal Federal ou do Congresso. Pode ser que as precauções
tomadas não sejam suficientes, mas a Justiça e os governadores tomaram medidas
para monitorar e impedir essas ações.
Outra diferença importante é que o 6 de janeiro americano foi um gesto desesperado do trumpismo, que havia sido derrotado eleitoralmente. Aqui, embora as pesquisas indiquem que o apoio a Bolsonaro está caindo, ainda falta mais de um ano para as eleições.
Os bolsonaristas têm feito um grande
esforço de mobilização — provavelmente o maior desde que o presidente tomou
posse. Esse esforço se justifica. Bolsonaro tem perdido apoio mês a mês, e as
perspectivas da economia e o avanço da variante Delta não sugerem uma inversão
de rumo.
As aspirações golpistas de Bolsonaro
precisam de respaldo popular ou pelo menos de uma imagem de respaldo popular.
Seu discurso é que ele, na condição de chefe supremo das Forças Armadas, vai
fazer “o que o povo pedir”.
No entanto, até agora, o saldo da
mobilização de rua tem sido amplamente favorável à esquerda. As manifestações
contra Bolsonaro em maio, junho e julho foram muito grandes, e a maior
manifestação bolsonarista até agora, no 1º de Maio, deve ter sido pelo menos
três vezes menor.
Talvez a opção pelas motociatas tenha sido
uma maneira de mascarar essa diferença, seja porque motociata é um gênero de
mobilização não diretamente comparável com uma passeata ou comício, seja porque
a reunião de motos amplifica a sensação de multidão. A concentração das
manifestações do 7 de Setembro em apenas duas cidades, São Paulo e Brasília,
compõe essa estratégia de aumentar artificialmente a sensação de apoio.
Além disso, Bolsonaro recebeu um presente
da esquerda. A tradicional manifestação do Grito dos Excluídos, que acontece
todo 7 de Setembro, neste ano foi convocada sem muito empenho e organização, e
a expectativa é que seja pequena.
É absolutamente certo que o bolsonarismo
vai comparar registros fotográficos das duas manifestações para desmentir os
institutos de pesquisa, “provar” a popularidade do presidente e dizer que “o
povo” o está autorizando a agir.
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