O que está acontecendo
no Brasil e com o Brasil a partir da vitória de Bolsonaro, sua chegada à Presidência
da República e como tem sido o exercício do mandato bolsonarista e quais são as
forças políticas que viabilizaram sua chegada ao poder e ainda o apóiam hoje
neste cenário preocupante da vida política, econômica e social brasileira, às
vésperas do 7 de setembro?
No Brasil, a
polarização da cena política, acentuada de uma maneira contundente nas últimas
eleições presidenciais, levou Jair Bolsonaro à Presidência em 2018. As forças
conservadoras chegaram ao poder pelo voto, com apoio dos militares, através de
uma liderança que foi menosprezada até às eleições pelos partidos hegemônicos
da política brasileira que venceram a maioria das eleições, desde a
Constituição democrática e cidadã de 1988.
Assim, a vitória
de Bolsonaro foi uma consagradora vitória das forças conservadoras, do discurso
econômico neoliberal, de uma participação efetiva dos militares que voltam à
cena política e a derrota daquelas forças políticas fiadoras da transição
democrática e que estiveram de maneira alternada no centro do poder no Brasil,
nos últimos 30 anos. Foi principalmente a derrota do PSDB e do PT, de como
agiram e exerceram o poder durante os mandatos na Presidência da República,
antes da eleição de Bolsonaro.
O que ainda está
por vir neste cenário de discursos extremados que dominam o cenário político
brasileiro em plena pandemia?
Quais são as alternativas e as bandeiras a serem defendidas que nos levem à afirmação e à comemoração da democracia tão duramente conquistada pela sociedade brasileira no próximo 7 de setembro?
O Governo
Bolsonaro
Desde os
primeiros dias do mandato de Jair Messias inaugura-se uma maneira de governar
pautada em uma agenda presidencial espetacularizada e centrada na pessoa do
próprio presidente.
A maneira de ser dele, desde o exercício do seu primeiro mandato de deputado federal, durante a campanha de 2018 e no exercício da Presidência, era, de certa forma, conhecida. Portanto, a sociedade brasileira sabia quem era Bolsonaro, que vem causando sérios problemas à governabilidade do País nas suas relações com os outros poderes republicanos, de uma maneira mais beligerante com o Judiciário. Amplia-se, em plena pandemia, as crises política, sanitária, social e econômica que se acumulam, com conflitos e transtornos cotidianos que impactam a sociedade, levando à perplexidade e ao incômodo as relações do atual governo brasileiro com a própria sociedade brasileira e a comunidade internacional.
A defesa da
democracia e da República
O imperativo de
defesa e ampliação da democracia, assim como o caminho para a construção de
novas relações políticas, econômicas e sociais centradas na preservação da
vida, da própria natureza e de uma cultura de paz, continuam sendo os
principais desafios da sociedade brasileira e mundial durante e pós pandemia.
A pactuação desta
perspectiva sustentável é o desafio colocado às dificuldades que estamos
vivendo no Brasil, ampliadas com a maneira de ser e governar do presidente
Bolsonaro. A pandemia desafia a sociedade brasileira e mundial na construção de
novas relações centradas no que nos faz humanidade e dá sentido às nossas
vidas: a cooperação, a solidariedade, a luta pela igualdade, liberdade e
fraternidade. Coloca nas ruas e nas redes sociais do Brasil e do mundo a
tragédia de milhões de pessoas, excluídas das conquistas elementares: trabalho,
alimentação, moradia, saúde e saneamento básico.
Portanto, em relação
ao Governo Bolsonaro, a sociedade brasileira continua desafiada ao
enfrentamento da beligerância e da imprevisibilidade do próprio presidente que
desgovernando afronta o funcionamento do Estado de Direito, da Constituição e dos
valores republicanos.
Jair Messias, na
sua anterior atividade parlamentar e agora no exercício do mandato presidencial,
traz para a cena política um ativismo beligerante do conservadorismo, parte
integrante da história brasileira, ao longo da vida republicana. Ameaça e
despreza as conquistas do Estado de Direito e da Constituição de 1988. Está
recolhido ao seu labirinto familiar, com apoio de lideranças civis e militares
conservadoras e ainda de uma parcela significativa da sociedade brasileira.
A política para o
presidente Jair Bolsonaro é o confronto. Confronto cotidiano – mesmo quando
tenha que recuar no dia seguinte. É o
modo dele de ser e de agir.
Antes, durante o
próximo 7 de setembro e depois, a sociedade brasileira e as suas representações
devem de maneira contundente manifestar-se defendendo o Estado de Direito e a
Democracia, apontando alternativas democráticas ao Bolsonarismo no caminho de
superação da nossa difícil realidade econômica, social e ambiental que exclui a
maioria da cidadania brasileira dos seus direitos constitucionais, impactados
pelo aumento da inflação, da gasolina e dos alimentos de primeira necessidade.
Como enfrentar essa
realidade?
O Governo
Bolsonaro movimenta-se para o confronto no dia 7 de setembro. A crise e a perda de apoio que vem sofrendo
nas próprias forças armadas, na área política e empresarial, tornam-no mais
inconsequente e agressivo. As sucessivas hospitalizações a partir do episódio
da facada, o estado de instabilidade da saúde, as denúncias de envolvimento da
família com as milícias e as rachadinhas agravam ainda mais o seu comportamento
beligerante, traço da personalidade do capitão Bolsonaro, desde quando servia
ao Exército. Governa olhando para o retrovisor, com um saudosismo anacrônico da
última ditadura militar, desafiando a sociedade, os poderes da República,
insinuando-se como comandante supremo das Forças Armadas. Blefa o tempo todo.
Apela para a população, para as Forças Armadas e para as polícias militares
querendo demonstrar uma liderança que já não exerce entre os seus eleitores que
o levaram ao Palácio do Planalto.
Neste contexto, o
próximo 7 de setembro é o nosso rubicão. Vai ser um momento importante de
avaliação de quem ainda apoia o presidente Bolsonaro entre os militares e a
sociedade em geral.
A independência
conquistada em 7 de setembro de 1822 está, mais uma vez, na berlinda. O futuro
da Sociedade e da Democracia deve ser, e vai ser, mais generoso para todos os
brasileiros e brasileiras. O momento nos coloca a necessidade de refletir e de
agir.
A sociedade
brasileira está demandada à construção de uma alternativa democrática ao bolsonarismo.
A tecelagem de uma alternativa democrática às crises política, econômica,
social e sanitária é o desafio de trabalhar a unidade das forças democráticas,
dialogando com a cidadania, com o mundo do trabalho e da cultura para a
mobilização de uma frente ampla que garanta o Estado de Direito, a defesa da
Constituição e a as reformas, garantindo a melhoria de vida da população
brasileira.
As opções entre a
democracia e a barbárie continuam postas. A democracia venceu os grandes
embates no século XX. É um processo em construção. A questão democrática se impõe como um valor
para a sociedade nas suas relações entre si e com a própria natureza.
Portanto, a
mobilização e as bandeiras a serem desfraldadas no próximo 7 de Setembro devem
ser a de defesa da Constituição, do Estado de Direito e da Democracia.
Estamos
desafiados.
Salve o 7 de
Setembro!
Salve a República e a Democracia!
*Professor da UFBA e do Instituto Politécnico da Bahia
2 comentários:
Perfeito!! Me preocupa muito a polaridade que se mostra como única possibilidade. Torço para que se apresente uma terceira via!!
Ótima reflexão!
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