Os
argumentos em favor da impossibilidade de golpe hoje são outros. O que é
normal, afinal, a sociedade brasileira é mais complexa e mais moderna, e o
contexto internacional, com o fim da guerra fria, é melhor acolhedora de um
processo de ruptura com a democracia. Não haveria, hoje, motivos de golpe, nem
apoio social ou internacional. Será?
No
plano internacional os apoios, imediatamente, não virão da América do Norte ou
da Europa, mas da Rússia, por interesse geopolítico, e da China, sobretudo por
interesse econômico. Um e outro país não tem qualquer apreço pela democracia
ocidental, e suas relações internacionais, como é de hábito, são absolutamente
pragmáticas. A resistência das democracias ocidentais duraria quanto tempo? E
como se expressaria?
Internamente
há um apoio social relevante, embora não mensurável. Parte do empresariado, das
classes médias e dos setores populares é autoritária, racista e homofóbica. Ou
seja, um golpe não estará de todo despido de apoio social.
O argumento de que o líder do movimento golpista é alguém despreparado e imprevisível não corresponde ao que a história nos tem ensinado. Tanto Hitler quanto Mussolini eram figuras medíocres.
Há
condições outras que contam a favor de um golpe. O desgaste de instituições
democráticas, como o STF e o Congresso Nacional, alimenta os sentimentos
golpistas. São duas instituições com imagens absolutamente desgastadas entre os
brasileiros.
Um
outro fator favorável é o fato de que o regime democrático no Brasil tem se
mostrado incapaz em assegurar a prosperidade e a segurança da população.
No
âmbito das FFAA não há consenso sobre o gesto, mas há dois fatores favoráveis.
O primeiro é a recusa ao PT, que já havia antes de 2002, mas foi incrementado
com a corrupção constatada no Mensalão e na Lava Jato, desde o governo Lula e a
instalação da Comissão da Verdade, no governo Dilma. Persiste, portanto, um
sentimento de recusa ao retorno do PT ao poder, e particularmente a Lula. O
segundo está relacionado às políticas identitárias do PT e das esquerdas, que
vão contra o conservadorismo dos costumes de grande parte dos dirigentes
militares.
A
questão é saber o quanto os ganhos compensam as perdas, pois um golpe militar,
pelo menos a curto prazo, irá impactar negativamente nossas relações
comerciais, os investimentos e as iniciativas locais, sem nenhuma garantia de
que a nova condução conseguirá responder às demandas da população por emprego,
renda e segurança, com acesso à educação e, sobretudo, à saúde.
Um
golpe militar tem algo em comum com uma CPI: sabemos como começa, mas não como
termina, ou melhor, como prossegue. Em 1964, os militares pensavam deixar o
poder dois ou três anos depois. E vários políticos que os acompanharam acabaram
sendo perseguidos, podendo o mesmo ocorrer com algumas personalidades ligadas,
hoje, ao Centrão. Não se sabe de antemão quais os vencedores e quais os
perdedores em um movimento dessa natureza a médio prazo.
Em
circunstâncias similares nem sempre prevalece a racionalidade. Por vezes, o que
vence é a emoção da recusa do outro. Portanto, o golpe é possível, não sei o
quanto de provável.
Há
dois caminhos para evitá-lo. Um é o impeachment, que a maioria do Congresso não
quer, o PT inclusive. O outro é ter uma alternativa política que possa chegar
ao segundo turno e vencer quem lá estiver, Bolsonaro ou Lula. Claro, se o golpe
não ocorrer antes.
A
conclamação para que os candidatos, fora da polarização, se unam em torno de
uma só candidatura, é inútil. É pregar no deserto. Possibilidade perto de zero
de ocorrer. Quem convencerá Lula, Ciro ou Doria, se ganhar a escolha interna no
PSDB, de não serem candidatos?
A única possibilidade é que um dos candidatos fora da polarização, que começam a se apresentar, como Rodrigo Pacheco, Eduardo Leite, Alessandro Vieira, Simone Tebet ou outro, consiga ganhar visibilidade e apoio ao ponto de inibir outros, cacifando-se para o segundo turno. E se um desses chegar terá todas as chances de vencer.
*Sociólogo político e socioambiental, Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília e do Programa de Pós-Graduação Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas
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