Folha de S. Paulo
Atos bolsonaristas foram convocados do
centro do poder para destruir os limites que a democracia lhe impõe
Nesta terça-feira (7) os golpistas de
Bolsonaro farão uma manifestação para tentar convencer os
quartéis de que um golpe seria popular.
É quase impossível que as manifestações não
encham. É, de longe, a manifestação fascista que passou mais tempo sendo
planejada. Prefeitos
bolsonaristas, pastores bolsonaristas, líderes bolsonaristas do agronegócio,
todos estão trabalhando pela manifestação fascista com muito mais empenho do
que nos Ustrapaloozas anteriores.
A contabilidade do bolsonarismo é sempre
clandestina e ilegal, mas não há dúvida de que será uma manifestação cara.
Não será, nem de longe, uma manifestação
como as outras, um análogo das Diretas Já, das marchas dos sem-terra, da Marcha
para Zumbi, dos protestos de 2013, dos atos pró-impeachment de 2016, dos
protestos recentes contra Bolsonaro.
Todas essas foram manifestações típicas de regime democrático, convocadas para protestar contra o centro do poder ou para apresentar-lhe reivindicações.
Sempre pode haver militantes violentos em manifestações democráticas. Mas há uma diferença radical entre um maluco com um coquetel molotov feito em casa e o presidente da República convocando as Forças Armadas e os policiais à deserção, pedindo-lhes que usem as armas do Estado brasileiro em favor de um dos lados da disputa política.
Por isso é ridículo analisar as ações do
Supremo Tribunal Federal contra os extremistas como repressão à liberdade de
expressão. A prisão de
Roberto Jefferson não é o Estado reprimindo um indivíduo, é a
Suprema Corte se defendendo, e defendendo a democracia brasileira, de uma
tentativa de destruição pelo Palácio do Planalto.
Roberto Jefferson não é a parte mais fraca
diante do poder. Joga como vanguarda de uma conspiração armada que envolve os
mais altos escalões do Poder Executivo e começa pelo presidente da República.
Se você é analista político e diz que não
compreende essa diferença, eu até gostaria de mudar sua opinião, mas estou meio
sem grana.
Vai dar certo? É difícil dizer, pois não
está claro se as Forças Armadas teriam que ser convencidas pelas massas a dar
um golpe (nesse caso, não vai ter golpe) ou se só querem uma desculpa vagabunda
qualquer para fazê-lo (nesse caso, vai).
Os militares
sabem ler pesquisa de opinião. Sabem que mesmo uma manifestação
enorme não adianta muita coisa se não estiver em sintonia com o que a maioria
da população pensa. A grande maioria dos brasileiros acha o governo Bolsonaro
uma porcaria.
A passeata não vai fazer a comida, a gasolina ou a
energia elétrica ficarem mais baratas, não vai ressuscitar as
centenas de milhares de mortos da pandemia, não vai fazer as commodities
subirem de novo pra gente ver se dessa vez o Guedes aproveita.
Os problemas e os escândalos que destruíram
a popularidade de Bolsonaro ainda existirão no dia seguinte. E, ao contrário de
1964, os militares já são vidraça.
Nesta terça haverá um festival de reacionarismo e de tudo que faz do Brasil um país atrasado, mas, como argumento para justificar golpe de Estado, mesmo uma manifestação grande será uma desculpa bem vagabunda. Se isso for suficiente para convencer as Forças Armadas, então já teve golpe.
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