Falou & Disse
“Amanhã
será um lindo dia… Amanhã mais nenhum mistério…O astro rei vai brilhar… A
luminosidade alheia a qualquer vontade há de imperar…” (Guilherme Arantes)
Muitas especulações e ameaças têm surgido
em função das comemorações tradicionais do dia de Independência do Brasil,
amanhã, 07 de setembro, quando estaremos a um ano das comemorações do
bicentenário, que acontecerá em 2022.
Coisas deste tempo de bolsonarismo que,
pelo que parece, está findando.
Fazem parte das comemorações do Dia da
Independência os desfiles escolares e militares, acompanhados de bandas de
música capazes de entusiasmar a população que sai às ruas em todos os recantos
do país.
Famílias acompanham seus filhos, orgulhosas
pelos lugares de honra conquistados ao carregar as bandeiras ou pelos destaques
nas alegorias, e até mesmo por conduzir faixas e cartazes anunciando os avanços
pedagógicos de suas escolas.
As pessoas vão às ruas para assistirem
entusiasmadas a passagem dos soldados das Forças Armadas com seus uniformes
militares cheios de distintivos, medalhas, e com alguns instrumentos de defesa
da Pátria, como os que são usados para sobrevivência nas batalhas ou nas
missões, até algumas armas e veículos.
Tudo isso faz parte do imaginário do nosso
povo e foi moldado através da nossa formação cultural desde o processo de
colonização.
O Brasil tornou-se independente no dia 7 de
setembro de 1822 e o grito de Independência ou Morte foi dado por D. Pedro I,
às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo. O momento ficou marcado como “O
Grito do Ipiranga”, segundo alguns historiadores.
Foi assim que aprendemos nos livros, que nos contavam nas escolas, a história sob a ótica dos dominadores. Muitos fatores concorreram para que o Brasil se tornasse independente, todos relacionados a movimentação política entre as nações estrangeiras que reivindicavam maior poder sobre as colônias, e as disputas internas entre as forças que assumiam a organização da economia no novo país, baseada no sistema escravagista.
Havia no país uma ebulição de ideias
liberais e progressistas, e algumas vontades expressas sobre a independência de
algumas regiões, em contraposição à unidade do território nacional. Segundo o
historiador Boris Fausto, “José Bonifácio defendia conceitos progressistas no
campo social, como a gradativa extinção do tráfico de escravos e da escravidão,
a reforma agrária e a livre entrada de imigrantes. Contudo, politicamente era
um liberal conservador, adversário de concepções como a democracia”.
A disputa política da época girava em torno
da manutenção da monarquia e do aceno à república. Bernardo Vieira de Melo já
havia proclamado a república em Pernambuco, em 1710, pregando assim o
rompimento com Portugal, feito que é cantado em verso, orgulhosamente, no hino
do estado de Pernambuco, ao afirmar que “a república é filha de Olinda”.
Importante mencionar que do ato da
independência foi partícipe uma mulher arretada, corajosa, mãe de nove filhos,
a princesa Maria Leopoldina, esposa de D. Pedro I, que já havia assinado no dia
2 de setembro de 1822 o decreto da independência na condição de princesa
regente, enquanto o imperador apaziguava os ânimos em São Paulo.
O decreto foi enviado às margens do
Ipiranga, em São Paulo, e o grito de independência ecoado da voz do príncipe
imperador tornou o Brasil uma monarquia independente, embora alguns desejassem
a república que viria somente mais de 50 anos após, em 1889.
Na verdade, a primeira mulher a governar o
nosso país em momento tão importante, segundo registros da história, foi a
imperatriz Maria Leopoldina, nascida na Áustria com o nome de Carolina Josefa
Leopoldina de Habsburgo-Lorena, integrante de uma das monarquias mais poderosas
da Europa.
No cenário conturbado da época, “os
brasileiros já estavam esperando que D. Pedro retornasse a Portugal, o que
rebaixaria o país ao status de simples colônia, em vez de um reino unido ao de
Portugal. Havia temores de que uma guerra civil separasse a Província de São
Paulo do resto do Brasil”. (História Hoje)
A Consolidação do Brasil enquanto país
independente aconteceu em poucos anos, mas com muitos conflitos militares,
relativamente graves, segundo o historiador Boris Fausto. “Na Bahia a
resistência das tropas portuguesas lideradas pelo Gal. Madeira de Melo resultou
em centenas de mortes. A retirada final dos portugueses se deu em 2 de
julho de 1823” … data muito comemorada pelos baianos.
Os Estados Unidos da América foi o primeiro
país a reconhecer o Brasil país independente. Somente em 1825, através de um tratado
assinado com Portugal, por meio do qual o Brasil se comprometeu a pagar dois
milhões de libras, houve o reconhecimento pela nação portuguesa.
Consta que D. Pedro pediu o dinheiro
emprestado à Inglaterra, por ser o terceiro mercado inglês no mundo, tornando-se
assim o primeiro empréstimo contratado pelo Brasil no exterior.
Quase 200 anos após, muita coisa aconteceu,
mas o país tem caminhado para se tornar uma grande democracia, após o fim da
ditadura militar e com a aprovação da Constituição Cidadã votada em Assembleia
Nacional Constituinte em 1988, cujos pilares são o estabelecimento do Estado
Democrático de Direito com garantias dos direitos fundamentais para a sociedade
e dos direitos individuais para todos os brasileiros.
Amanhã estaremos vivenciando mais um dia da
independência, num momento conturbado pelas arruaças daquele que ora ocupa a
cadeira da presidência do país e não esconde a sua desenvoltura em ameaçar os
brasileiros com desemprego, inflação alta, fome, morte pela falta de atenção à
pandemia da Covid-19, proteção à grilagem de terras e muitas promessas
vãs, todas na contramão da garantia dos direitos humanos, inclusive golpe de
estado, para o qual vem treinando com “motociatas” e algumas bravatas
desmentidas pela prática do dia a dia.
Mas as ameaças serão infrutíferas,
refletindo o que diz a canção ainda a canção de Guilherme Arantes: “Amanhã! /
Mesmo que uns não queiram / Será de outros que esperam / Ver o dia raiar /
Amanhã! Ódios aplacados / Temores abrandados / Será pleno! Será pleno!”
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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