O Estado de S. Paulo
Bolsonaro quer o 7/09 para dizer que o
‘povo’ está com ele, mas 2/3 são contra
No sábado, uma semana atrás, o presidente
da Câmara, Arthur Lira, surpreendeu seus aliados no pequeno e pobre município
de Lagoa da Canoa, em seu Estado, Alagoas, ao ligar para o presidente Jair
Bolsonaro pelo celular, ser atendido e abrir a conversa pelo viva voz: “Olha
aqui, é o nosso presidente!” Foi uma festa.
É assim que Bolsonaro governa, ou melhor, não governa. Faz campanha e marketing, num desbragado populismo, a la Hugo Chávez, que corrói as instituições, cria um clima de guerra – inclusive entre Câmara e Senado – e vai transformar o 7 de Setembro numa grande fake news, de defesa do nada e ataque à democracia, às instituições e à realidade.
Há os que, como Lira, se movem por interesses pessoais, políticos e eleitorais. Outros são os crentes, que tapam olhos, bocas, ouvidos – e narizes – para não enxergar e não entender o que está bem na sua cara. Caem em qualquer lorota e atacam quem tenta trazer luz e racionalidade ao País.
O fato é que Jair Bolsonaro, que há pouco
esfumaçou a Praça dos Três Poderes com tanques obsoletos e sem graça, tirou da
população a festa e a alegria de saudar a Pátria, curtir o desfile militar e as
manobras da Força Aérea para se concentrar numa única coisa: ele próprio.
Está prevista uma presença recorde em
Brasília, Rio, São Paulo e várias capitais. Essa gigante massa de manobra será
usada por Bolsonaro para mais uma fake news: a de que “o povo” está com ele.
Segundo todas as pesquisas, porém, ele tem menos de um terço da população. Os
outros dois terços observam, indiferentes ou perplexos, ou se desesperam,
temendo que vá das palavras aos atos contra instituições, eleições e a
democracia.
Tipos como Roberto Jefferson, Sérgio Reis,
Ottoni de Paula, Daniel Silveira, Wellington Macedo, Zé Trovão e aquela outra
que sumiu, depois de se fantasiar de Ku Klux Klan diante do Supremo, fazem da
violência e do “quebro e arrebento” a sua bandeira. Esse é o seu lado, leitor?
Outros usam instrumentos da democracia como
armas letais. A deputada Bia Kicis ameaça (sim, é uma ameaça) com um projeto
para acabar com o TSE, a Justiça Eleitoral, que tem tantos serviços prestados.
O deputado, ex-líder do governo e ex-major Vitor Hugo lança um projeto para
tirar o comando dos governadores sobre as PMs e transferi-lo para Bolsonaro,
transformando as polícias em milícias bolsonaristas, novamente a la Chávez.
E há os que transitam entre o incompreensível,
o patético e a insanidade, como o negro Sérgio Camargo, da Fundação Palmares,
que, anteontem, levou ao delírio uma tal conferência conservadora (o Foro de
São Paulo da extrema direita) ao chamar os movimentos negros de
“afromimizentos, negrada vitimista, pretos com coleiras”. A escravidão, para
ele, foi o maior barato.
Misturam-se a essa gente os ex-ministros
Ricardo Salles, da destruição da Amazônia, e Ernesto Araújo, da implosão da
política externa, além de Onyx Lorenzoni, que pula de ministério em ministério
em nome de Deus, da família e da moral. Como o Taleban.
Arthur Lira faz o jogo e outros fazem gol
contra, como Pedro Guimarães, da CEF, que transformou um traque numa bomba: um
texto anódino da Fiesp e da Febraban, que seria nada, acabou fazendo emergir a
resistência entre empresários, banqueiros, executivos e agronegócio.
Instabilidade afeta desenvolvimento, investimentos e o futuro.
O mais triste é como um presidente que não
governa, não tem programa, erra tudo na pandemia, não dá a mínima para a crise
hídrica e só destrói, sem construir, consegue surrupiar a bandeira nacional, o
verde e amarelo e a racionalidade de tantos inocentes úteis para atacar o
Supremo, pilar da democracia, e endeusar a ele próprio, líder da desordem, do
caos, da violência, da enganação.
Um comentário:
Eliane: há tropas do Exército se movimentando ao longo das principais rodovias ... Para onde, mesmo, vão elas?
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