O Estado de S. Paulo
Ao rasgar a fantasia da responsabilidade fiscal, o governo escancara tudo aquilo que nunca foi
O Bolsonarismo triunfou por uma combinação
de ojeriza ao PT e seus vergonhosos casos de corrupção com a crença de que uma
agenda liberal e reformista seria encabeçada por um presidente que se dizia a
antítese do sistema. Esta última parte, além de incompatível com a trajetória
retrógrada e corporativista do longevo deputado Jair Bolsonaro, vinha
fantasiada de um discurso de humilde ignorância em Economia.
Inflou-se – no tamanho e no ego – um
vistoso Ministério da Economia que levaria a cabo reformas e corrigiria décadas
de erros de política econômica. Faríamos jus, finalmente, ao papel que a
história nos reservava. Respeito à responsabilidade fiscal, privatizações de 1
trilhão, déficit público zerado, abertura comercial e choque de gestão. Além do
fim da corrupção e dos conchavos políticos obscuros. Seria a redenção de um
País que vivia havia gerações de joelhos. Seria a pátria revivida. Ledo engano
daqueles que acreditaram.
Três anos depois, privatizações não houve, déficit zerado tampouco, reformas viraram contrarreformas e a abertura comercial ficou esquecida. Destacam-se solitárias e positivamente a agenda de modernização do sistema financeiro pelo Banco Central e sua autonomia. Mas uma andorinha só não faz verão. Ainda mais agora, sobrevoando sob chuva um mar repleto de tubarões.
Ao rasgar a fantasia da responsabilidade
fiscal neste seu penúltimo novembro, o governo escancara tudo aquilo que nunca
foi e, mais ainda, o que é. Alternando obsessão por um imposto de transações financeiras,
reformas mal ajambradas e ideias esdrúxulas para driblar o teto de gastos, um
Executivo federal cada vez mais sequestrado pelo Legislativo jogou nesse mar de
tubarões a última das âncoras fiscais e com ela muito do que conquistamos com
árduos e descontínuos avanços.
Agora é do populismo despudorado o papel de
protagonista. Não há teto de gastos, planejamento ou orçamento. Os 90 bilhões
de gastos adicionais visam à eleição de 2022, não à acomodação de gastos
sociais. É desonesto dizer diferente. Assim como é desonesto afirmar que a
reforma administrativa que aí está nos devolverá algum recurso. São as emendas
de relator (e seus desvios), o fundo eleitoral (prevenindo a renovação
política), os subsídios fiscais (sem avaliação de impacto) e várias outras
benesses privadas distribuídas no varejo dos interesses individuais as
motivações para o fim do teto. O governo não governa, o parlamento distribui
para si o orçamento e o povo padece. Essa é a verdade neste País sem rumo.
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