Correio Braziliense
Simbolicamente, o presidente
do Senado é o primeiro pré-candidato de centro a sinalizar um projeto nacional,
inspirado no governo de Juscelino Kubitschek
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
costuma dizer que a eleição para a Presidência da República precisa ser
“fulanizada”, ou seja, é uma disputa entre indivíduos que encarnam alguma coisa
e não entre partidos. Traduzindo para a chamada “terceira via”, uma alternativa
de poder que se contraponha ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
que lidera as pesquisas de opinião, e ao presidente Jair Bolsonaro, que se
movimento em função da reeleição, não depende apenas de um nome. Para chegar ao
segundo turno, o candidato precisaria encarnar um projeto nacional que se
contraponha a ambos.
Na política brasileira, na base da “transa” eleitoral, a “pequena política” obscurece a grande. Quem observa as articulações em curso ainda não consegue identificar um pré-candidato de centro com um projeto robusto para o país. Se sobram candidatos, falta uma plataforma política, muito mais do que uma narrativa. O debate sobre a PEC dos Precatórios, em discussão na Câmara, ilustra bem como há um vazio programático ao centro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro estão se lixando para o chamado equilíbrio fiscal na campanha eleitoral.
Ministro da Economia, Paulo Guedes detonou
sua equipe do Tesouro, para viabilizar o chamado Auxílio Brasil, no valor de R$
400,00, avaliado pelo Centrão e pelo Palácio do Planalto como um instrumento
capaz de recuperar a popularidade de Bolsonaro junto aos eleitores pobres, que
derivaram de volta às bases eleitorais de Lula, principalmente no Nordeste. O
petista não é bobo e está defendendo que o valor do auxílio seja aumentado para
R$ 600. Não será surpresa alguma se a Câmara aprovar esse aumento de 50% na
proposta original, como aconteceu com o auxílio emergencial concedido na
pandemia. Os deputados também estão correndo atrás de votos.
Muitos analistas de mercado e agentes
econômicos arrancam os cabelos com o impacto da medida na economia, por causa
da desvalorização do Real e da queda do valor das ações nas bolsas. Entretanto,
sempre há ganhadores numa economia capitalista. O setor exportador, por
exemplo, ganha muito com isso. Também ganham megainvestidores, que aproveitam a
baixa para comprar ações ou mesmo empresas em dificuldades. E “la nave va”…
Desenvolvimentismo
A novidade da semana é o possível lançamento da pré-candidatura do presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que amanhã se filiará ao PSD, num grande ato
no Memorial JK. Simbolicamente, é o primeiro candidato de centro a sinalizar um
projeto nacional, inspirado no governo de Juscelino Kubitschek. No Brasil da
década de 1950, como agora, era preciso ousar. JK prometeu 50 anos de progresso
em 5 anos de realizações, com pleno respeito às instituições democráticas.
Seu projeto desenvolvimentista, com 30
objetivos, ficou conhecido como Plano de Metas. De última hora, tirou da
cartola mais um: a construção de Brasília e a transferência da capital federal.
Ao contrário de Pacheco, cuja carreira meteórica tem seu leito no Legislativo,
graças ao binômio energia e transportes, Juscelino deixava o governo de Minas
(1951-1955) com um perfil desenvolvimentista. Não era um projeto nacionalista,
suas diretrizes foram herdadas da famosa Comissão Mista Brasil-Estados Unidos,
que funcionou de entre 1951 e 1953, no governo Vargas.
Os estudos indicavam a necessidade de
eliminar “pontos de estrangulamento” da economia brasileira: por exemplo, fabricar
tratores para mecanizar a nossa agricultura. Quando Lucas Lopes deixou a
presidência do BNDE para assumir o Ministério de Fazenda, em agosto de 1958,
seu lugar foi ocupado por ninguém menos do que o economista liberal Roberto
Campos. Não por acaso a esquerda atacava a sua “política de conciliação” e não
queria, de forma alguma, que voltasse ao poder nas eleições de 1965, que
acabaram canceladas pelos militares no poder. Mas essa já é outra história.
O Plano de Metas mencionava cinco setores
básicos da economia, para os quais os investimentos públicos e privados
deveriam ser canalizados. Os mais aquinhoados foram energia, transportes e
indústrias de base, num total de 93% dos recursos. Alimentação e educação foram
preteridos; Brasília não integrava nenhuma delas. Apesar da inflação, com a
industrialização, JK mudou o Brasil.
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