O Estado de S. Paulo
Depois de TSE e MP, Congresso mira o Itamaraty. Sem contar a Polícia Federal...
Assim como a Câmara meteu a mão na Justiça
Eleitoral e depois no Ministério Público, o Senado mira num novo alvo: a
diplomacia brasileira. Nos três casos, legislando cinicamente em causa própria.
Ex-presidente do Senado e atual da poderosa
CCJ, o senador Davi Alcolumbre bloqueia há mais de cem dias a sabatina de André
Mendonça para o Supremo e agora batalha por mais uma boquinha – ou bocona –
para políticos. Para ele próprio?
Não é preciso ser diplomata de carreira para assumir embaixadas, missões e delegações permanentes no exterior, mas, desde a Constituição de 1937, deputados e senadores têm de optar: mandato ou embaixada. Alcolumbre apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para que apenas se licenciem. Um pé lá fora, outro no Congresso e optam pelo mais conveniente – ou lucrativo.
Se aprovada a PEC de Alcolumbre, o Centrão
vai meter a faca no pescoço de Bolsonaro e dos próximos presidentes por uma
vaguinha em Paris, Londres, Lisboa... A diplomacia será uma bela moeda de troca
e dane-se a política externa! “Uma tristeza! Um ataque ao Itamaraty e um
desestímulo a todos os diplomatas”, reage o chanceler mais longevo, Celso
Amorim.
Hoje, embaixador tem de ter o mínimo de 35
anos, serviços prestados, indicação do presidente e sabatina no Senado. No
segundo governo Lula, todos os embaixadores eram de carreira. No de Dilma, só
não eram os de Iraque e Coreia do Norte. No de Bolsonaro, só um não é, o
general Gerson Menandro, em
Israel – fora tentar meter em Washington o
próprio filho, Eduardo Bolsonaro, e na África do Sul o ex-prefeito Marcelo
Crivella. Senado e país africano se fizeram de desentendidos.
Essa é só mais uma ameaça do Congresso. O
Código Eleitoral aprovado na Câmara retira poderes do TSE para, assim como quem
não quer nada, os partidos fiscalizarem as próprias campanhas. O Senado
escondeu o código e a Câmara engatou uma segunda com a PEC que infiltra
políticos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e dá justamente a
corregedoria para um deles. Se o MP investiga os políticos, os políticos
intervêm no MP.
A PEC, porém, foi derrotada no plenário e o
presidente da Câmara, Arthur Lira, avisou: “O jogo só acaba quando termina”.
Ué! E não terminou? Como o texto derrotado foi um substitutivo, ele estuda
reativar o projeto original, muito pior.
Que se cuidem a Justiça Eleitoral, o
Ministério Público, o Itamaraty e... a Polícia Federal, onde a política entrou
com tudo! O Centrão já é insaciável, mas fica ainda mais quando se alia à
esquerda e devora o coração, ou a alma, do governo.
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