Folha de S. Paulo
A fala de André Esteves desnuda o país
refém de meia dúzia de espertalhões
O portal de notícias Brasil 247 publicou o
áudio de animada conversa entre o banqueiro André Esteves e
um grupo de clientes. É uma aula sobre os donos do poder no Brasil,
entrecortada por risadas típicas de quem está ganhando muito dinheiro, ainda
que o país esteja uma desgraça.
O banqueiro faz questão de exibir sua
influência junto às mais altas instâncias do poder político, com uma mistura de
cinismo e boçalidade envernizada, própria de quem se acha educado só porque
sabe usar os talheres. Esteves jacta-se de seu prestígio junto ao presidente da
Câmara, Arthur Lira. Gaba-se do acesso ao presidente do Banco Central, Roberto
Campos Neto, a ponto de este tê-lo consultado sobre o nível da taxa de juros,
atitude que é um escândalo de relações carnais entre o público e o privado.
Vangloria-se de ter influenciado a decisão do STF favorável à independência do Banco Central, informando ter conversado com alguns ministros antes do julgamento. Só não revelou quais. E expõe o motivo de tanto empenho. Se Lula for eleito, "vamos ter dois anos de Roberto Campos". Esteves considera que Bolsonaro, se "ficar calado" e trouxer "tranquilidade institucional para o establishment empresarial", será o "favorito" em 2022.
Em tortuosa análise sobre o Brasil, Esteves
compara o impeachment de Dilma Rousseff ao golpe de 1964: "Dia 31 de março
de 64 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram pra escola, o
mercado funcionou. Foi [como] o impeachment da Dilma, com simbolismos,
linguagens, personagens da época, mas a melhor analogia é o impeachment da
Dilma".
A comparação é um insulto aos milhares de
presos, perseguidos, torturados e assassinados na ditadura, mas o raciocínio de
Esteves faz sentido ao aproximar (talvez sem querer) as duas datas infames:
1964 e 2016 foram golpes. A conversa desinibida do banqueiro desnuda, de
maneira explícita, um país refém de meia dúzia de espertalhões do mercado
financeiro.
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