Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
Durante todos esses meses de pandemia a principal tensão concentrou-se no definhamento da atividade econômica. Quase seiscentas mil mortes depois, a pandemia parece ter recuado substancialmente, não há a mesma necessidade de manter a população sob isolamento, os negócios estão reabertos, mas as condições econômicas estão sob forte risco, agora por outras razões.
O preço dessas mortes. Foi o resultado dos desastres já conhecidos: o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, a desorganização dentro do Ministério da Saúde e a falta de coordenação no enfrentamento à covid-19.
Mesmo com as trombadas do processo de imunização, com os desperdícios e suposta corrupção, a vacinação avançou. Hoje são 97 milhões os vacinados com duas doses ou dose única e outros 148,8 milhões com uma dose. A variante Delta, que há alguns meses levantava temores, acabou por não ter a periculosidade temida. O relativo recuo da pandemia foi o fator que permitiu a retomada da atividade econômica.
É verdade que muita coisa não voltará a ser o que era. Apenas em parte o trabalho em home office será suspenso, algumas viagens corporativas devem ser substituídas por videochamadas e boa parte da população optou por serviços de compra e de comida via aplicativos.
No entanto, quem entendia que bastaria a reversão da pandemia para que a economia voltasse a bombar, como está acontecendo em outros países, não pode contar com essa virada porque são grandes os riscos e as incertezas que se antepõem às decisões.
A maior ameaça está na área fiscal. Os grandes projetos do governo inviabilizam-se entre si. A proposta de substituir o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, concebido para alavancar a reeleição, tromba com a quase inviabilidade da reforma do Imposto de Renda. A necessidade de saldar R$ 90 bilhões em precatórios esbarra na impossibilidade de expandir as despesas públicas (Teto de Gastos). E os demais projetos de reforma não mostraram até agora viabilidade política.
Afora isso, a inflação continua em disparada, como deverá ser confirmado nesta sexta-feira com a divulgação do IPCA de setembro. O governo quer evitar o repasse da alta global da gasolina, do diesel e do gás de cozinha para o consumidor, mas não sabe o que fazer.
Embora haja grande disponibilidade de recursos no mercado internacional, os investidores já não olham o Brasil como grande oportunidade. O leilão de áreas de petróleo na última quinta-feira só conseguiu interessados em 5 dos 92 blocos ofertados. Os investimentos estrangeiros diretos no País, que em 2011 alcançaram os US$ 100 bilhões, não deverão ultrapassar os US$ 50 bilhões neste ano. E, cá entre nós, se o próprio ministro da Economia prefere fazer seus investimentos em paraíso fiscal, como convencer os investidores estrangeiros a canalizar seus recursos para o Brasil?
E há as incertezas políticas, que podem crescer com a aproximação das eleições. Ou seja, nem mesmo a vitória contra a covid, que custou o sacrifício de 600 mil brasileiros, pode garantir a redenção para a economia nos próximos meses.
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