sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Bruno Boghossian – O fim da era Guedes

Folha de S. Paulo

Ministro tem poucas chances de sobreviver a eleição que terá economia como questão central

Na campanha de 2014, Dilma Rousseff demitiu o ministro da Fazenda pela imprensa. Com uma economia em desaceleração, aliados e investidores cobravam sinais de mudança naquela área caso ela fosse reeleita. A três meses do fim do mandato, a petista antecipou o destino de Guido Mantega durante uma entrevista coletiva: "governo novo, equipe nova".

No início de setembro, a reeleição da presidente estava em risco. Marina Silva dividia com a petista a liderança nas pesquisas e vencia por 48% a 41% no segundo turno. Dilma segurava Mantega na cadeira até então, mas cedeu para acalmar empresários e caciques do Congresso que ameaçavam pular do barco.

Ameaças políticas e eleitorais também devem selar o destino de Paulo Guedes. Líderes do centrão escancararam um processo de fritura do ministro, com o objetivo de ampliar sua influência na definição das despesas do governo. Mesmo que sobreviva no cargo, o chefe da equipe econômica já tem prazo de validade.

Políticos governistas mantêm apoio à reeleição de Bolsonaro porque acreditam numa recuperação de popularidade até o ano que vem, mas não topam encarar uma campanha que aponte para a continuidade da agenda de Guedes.

Parte dos aliados quer a demissão imediata do ministro. Uma fatia mais larga prefere que ele permaneça, enfraquecido, com seus poderes transferidos ao centrão. Ainda assim, Guedes tem poucas chances de sobreviver a uma campanha em que a economia será um ponto central.

Largando em desvantagem, Bolsonaro não terá condições de sustentar uma plataforma de corte de gastos e limitação de programas governamentais. Para alguns políticos, não bastará ao presidente prometer um caminho diferente; ele terá que afastar a imagem de Guedes de um eventual segundo mandato.

A revelação de uma empresa num paraíso fiscal foi só um pretexto do centrão para fragilizar ainda mais o ministro. É a política que vai obrigar Bolsonaro a rifar seu "posto Ipiranga" —agora ou em 2022.

 

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