Folha de S. Paulo
Ministro tem poucas chances de sobreviver a
eleição que terá economia como questão central
Na campanha de 2014, Dilma Rousseff demitiu
o ministro da Fazenda pela imprensa. Com uma economia em desaceleração, aliados
e investidores cobravam sinais de mudança naquela área caso ela fosse reeleita.
A três meses do fim do mandato, a petista antecipou o destino de Guido
Mantega durante
uma entrevista coletiva: "governo novo, equipe nova".
No início de setembro, a reeleição da presidente estava em risco. Marina Silva dividia com a petista a liderança nas pesquisas e vencia por 48% a 41% no segundo turno. Dilma segurava Mantega na cadeira até então, mas cedeu para acalmar empresários e caciques do Congresso que ameaçavam pular do barco.
Ameaças políticas e eleitorais também devem
selar o destino de Paulo Guedes. Líderes do centrão escancararam um
processo de fritura do ministro, com o objetivo de ampliar sua influência
na definição das despesas do governo. Mesmo que sobreviva no cargo, o chefe da
equipe econômica já tem prazo de validade.
Políticos governistas mantêm apoio à
reeleição de Bolsonaro porque acreditam numa recuperação de popularidade até o
ano que vem, mas não topam encarar uma campanha que aponte para a continuidade
da agenda de Guedes.
Parte dos aliados quer a demissão imediata
do ministro. Uma fatia mais larga prefere que ele permaneça, enfraquecido, com
seus poderes transferidos ao centrão. Ainda assim, Guedes tem poucas chances de
sobreviver a uma campanha em que a economia
será um ponto central.
Largando em desvantagem, Bolsonaro não terá
condições de sustentar uma plataforma de corte de gastos e limitação de
programas governamentais. Para alguns políticos, não bastará ao presidente
prometer um caminho diferente; ele terá que afastar a imagem de Guedes de um
eventual segundo mandato.
A revelação de uma empresa num paraíso
fiscal foi só um pretexto do centrão para fragilizar ainda mais o ministro. É a
política que vai obrigar Bolsonaro a rifar seu "posto Ipiranga"
—agora ou em 2022.
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