Folha de S. Paulo
Pode faltar luz, fertilizante e comida, diz
o presidente de seu ócio desgovernado
Jair Bolsonaro não está se segurando. Faz
um mês, suspendeu a campanha golpista em público, parou de fazer motociata
mussoliniana e ficou um tanto menos falante.
Dedicou a logorreia a fazer campanha contra
vacinas e a culpar governadores pela carestia dos combustíveis. Seus assessores
do centrão dizem que ele tem de sair do noticiário negativo a fim de recuperar
pontos de popularidade. Nesta quinta-feira, voltou a falar mais.
Atacou de novo a vacinação contra a Covid.
Também disse que o Brasil
deve se preparar para “problemas de abastecimento” em 2022, pois os
fertilizantes vão ficar muito caros. Sim, insinuou que pode faltar comida.
Bolsonaro até comentou que a Secretaria de Assuntos Estratégicos prepara um plano de emergência para não faltar fertilizante, mas nunca sabe o que diz, afora nos casos de pregação de golpe, morte, violências, preconceitos, ignorância ou de agitação do seu rebanho.
Primeiro, causa alarme com alarde, um
alerta inútil (declarações alarmantes não produzirão mais fertilizantes) e
talvez catastrofista.
A inflação do fertilizante pode ser ainda
mais feia, assim como a do plástico ou de produtos que dependam ainda mais
pesadamente de combustíveis ou de petroquímicos na sua fabricação. Faltam gás e
carvão na Europa e na Ásia, o que também provoca aumento no preço de petróleo e
derivados utilizados como alternativa. Pode ser que a crise seja atenuada se a
Rússia quiser ou puder fornecer mais gás para a Europa, se a Opep decidir tirar
mais petróleo do chão, se o outono e o inverno no Hemisfério Norte não forem
muito frios, para ficar em problemas maiores e imediatos. Sim, é preciso
antecipar crises e tentar atenuá-las, mas essa é uma conversa de loucura
ingênua, em se tratando de Bolsonaro, que apenas agrava problemas, quando não
os cria.
Segundo, no que diz Bolsonaro está
implícito que gasolina e diesel vão também ficariam ainda mais caros, com ou
sem o imposto dos governadores. O aumento
de preço do petróleo antecede bem a crise que agora se dissemina pelo
setor de energia inteiro. O que fez Bolsonaro a respeito?
Terceiro, Bolsonaro não fala de carne ou
feijão (a não ser que esteja tratando da importância maior de comprar balas e
fuzis). Nas semanas recentes, até passou a comentar com mais frequência o gás
de cozinha, ainda que para fazer a promessa ignorante de baixar o preço do
botijão pela metade. Em geral, prefere falar de diesel, assunto de seu
eleitorado de presidente-vereador, e de gasolina. Nesta quarta-feira, tratou de
fertilizante, decerto um problema sério, mas que chamou a sua atenção porque o
pessoal do agro apita no seu ouvido.
O problema não é, claro, apenas falar.
Bolsonaro é laborfóbico, quase nunca trabalhou na vida, não tem ideia do que é
ser gerente, executivo, administrador, ignora questões de governo. Não tem
vergonha na cara para assumir problema algum, além do mais. Costuma transferir
responsabilidades para outrem. Talvez no fundo jamais tenha se convencido de
que é presidente da República.
A epidemia tem mais de ano e meio e até
agora Bolsonaro-Guedes não criaram um plano para aliviar a miséria sabida que
viria e se vê faz tempo. Não há governo algum, nem badulaques para colocar na
vitrine. Bolsonaro não consegue inaugurar mais do que mata-burros, pinguelas,
bicas e metros de asfalto. Mais e mais deu para anunciar desastres: vai faltar
luz, fertilizante. Talvez esteja certo. Sabendo de seu ócio destrutivo e de sua
indiferença desumana, não se pode esperar previdência, prevenção ou tentativa
de atenuar problemas importados. Bolsonaro conhece a si mesmo. É o Messias do
caos.
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