O Estado de S. Paulo
Doria contra Leite: ‘A população não quer fazer teste, quer segurança, confiança’
O mais novo investimento do governador e
presidenciável João Doria, de São Paulo, é para tentar atrair o ex-juiz e
ex-ministro da Justiça Sérgio Moro para seu projeto de disputar as prévias do
PSDB em novembro e a Presidência da República em 2022. Os dois andam
conversando, mas Moro, um poço de indefinição, não diz nada e não descarta nem
confirma sua própria candidatura. Além disso, é também disputado pelo União
Brasil (resultado da fusão DEM-PSL).
Além do temperamento e da inexperiência
política, o tempo corre contra Moro, que tem até o fim deste mês para acertar
sua vida com a consultoria em que trabalha depois de deixar o Ministério da
Justiça atirando. Ele tem até o dia 31 para dizer se abandona o sonho de ser
candidato (à Presidência ou ao Senado), ou se abandona o emprego.
Moro conversa muito, mas não define nada, enquanto João Doria é inabalável na sua decisão – ou obsessão – de disputar a Presidência e tenta arrastar Moro e, junto com ele, toda a sua simbologia no combate à corrupção, para sua campanha. A Lava Jato morreu, mas a aura da Lava Jato ainda paira sobre o eleitorado.
Doria levou para seu governo seis
ex-ministros do governo Michel Temer, a começar por Henrique Meirelles, da
Fazenda. Também levou o seu vice, Rodrigo Garcia, do DEM para o PSDB e acolheu
o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, ex-DEM, hoje sem partido, numa
secretaria com dupla personalidade, econômica e política. E convidou para a
Saúde Luiz Henrique Mandetta, do DEM, que indicou seu ex-braço direito, João
Gabbardo.
Enquanto o governador Eduardo Leite (RS),
seu adversário nas prévias do PSDB, esbanja simpatia, princípios e pautas de
costumes, Doria dispara uma torrente de números: PIB de 7,5% em São Paulo neste
ano, segundo a Fundação Seade, e recuperação de 713 mil empregos de janeiro a
agosto, segundo o Caged. Tudo sempre acompanhado de “eu fiz”, ou “São Paulo
fez”. O Estado, aliás, aplica R$ 30 milhões em absorventes femininos nas
escolas. Ontem, Bolsonaro vetou um programa semelhante para o Brasil...
Ao dizer que o social e a Educação “não são
prerrogativas do (ex-presidente) Lula”, novos números: mais R$ 21 bilhões para
investir em 2021 e R$ 28 bilhões em 2022, 4,3 milhões de pessoas no “Alimento
Solidário”, 2 milhões no “Vale Gás”, de 363 para 1.878 escolas de tempo
integral... E uma bandeira de campanha: “Aqui não tem roubo. Não se mete a mão
no dinheiro público”.
E a rejeição? Para o mundo político, um
grande problema de Doria é exatamente sua rejeição, que é forte em São Paulo e
migra para o resto do País. Mas o próprio rejeitado diz que o índice vem caindo
há quatro meses e emenda: “Quanto melhor a economia, a renda, o emprego e a
vacina, melhor a avaliação (dele) em São Paulo e no Brasil”. A estratégia de
Eduardo Leite é transformar suas desvantagens em vantagens – ser muito jovem
(36 anos), novato e inusitado. Mas Doria aposta: “A população não quer fazer
teste, quer segurança, confiança”.
Se as prévias já não são um passeio, como
Doria aparentemente imaginava, a maior pedreira vem depois, seja para ele,
Leite ou qualquer opção de “centro” ou “terceira via”. Ao admitir a força
eleitoral de Lula, com quem já trocou ácidos desaforos, disse que não menospreza
Bolsonaro: “Ele está ferido, machucado, mas tem a caneta e a queda nas
pesquisas não é acentuada, é gradual. Logo, será um importante player, vai dar
muito trabalho”.
É uma corrida de obstáculos: prévia tucana,
polarização Lula-Bolsonaro e uma multidão de candidatos a terceira via, que
fica ainda mais congestionada com o União Brasil. Logo, Eduardo Leite é apenas
um dos muitos problemas de Doria para sobreviver até o segundo turno de 2022.
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