Folha de S. Paulo
Previsão de alta de preços acelerada até
abril vai atrasar recuperação de popularidade
A escalada
da inflação até a casa dos 10% já provocou danos políticos a Jair
Bolsonaro, mas o presidente deve ter motivos para se preocupar mais. As
projeções para os próximos meses apontam que muita coisa ainda deve ficar mais
cara em 2022. O cenário indica que o mau humor provocado pela alta de preços
pode transbordar para o período eleitoral.
A pressão sobre produtos e serviços tende a
continuar no curto prazo, segundos analistas. Os reajustes dos combustíveis e o
preço mais alto da energia elétrica aumentam também o custo dos transportes e
da indústria, que deve ser repassado para o consumidor. Com isso, a
inflação pode
continuar no patamar de dois dígitos até março ou abril.
É uma notícia que vai azedar o clima para Bolsonaro na largada de sua corrida pela reeleição. Uma curva de inflação longa costuma ter um efeito mais intenso sobre a opinião dos eleitores —mesmo depois que os preços param de subir. A seis meses da eleição, haverá pouco tempo para que esse impacto se dissipe.
A percepção de que as coisas andam mal
nessa área se
consolidou nos últimos meses. Uma pesquisa do Ipespe mostrou que 67% dos
brasileiros veem a economia no caminho errado. Num levantamento Genial/Quaest
desta semana, quase metade dos entrevistados citaram o desemprego, a inflação
ou o crescimento econômico como o principal problema do país atualmente.
Bolsonaro sabe o tamanho desse abacaxi.
Nesta quinta-feira (11), o presidente falou da inflação pela manhã, à tarde e à
noite. Como de costume, culpou a pandemia e os governadores, com o objetivo de
desvincular o governo da alta de preços.
O presidente já sentiu os impactos desse
quadro em sua popularidade. O prolongamento da pressão inflacionária pode
agravar a situação, manter o fantasma dos preços como tema inevitável da
campanha e dar a Bolsonaro uma janela mais curta de recuperação. Se a economia
mantiver o governo com índices de aprovação na casa dos 25% até abril, a
reeleição ficará mais distante.
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