O Globo
Bolsonaro realiza desejo antigo ao acabar com Bolsa Família
No fim do ano passado, Jair Bolsonaro
ameaçou dar “cartão vermelho” a quem admitisse o plano de extinguir o maior
programa social do país. “No meu governo, está proibido falar a palavra (sic) Renda Brasil. Vamos continuar
com o Bolsa Família e ponto final”, sentenciou.
Mais uma vez, o presidente traiu o próprio
discurso. Numa canetada, acabou com o Bolsa Família e desorganizou a rede de
proteção aos mais pobres. Agora promete abrigá-los no Auxílio Brasil, que deve
começar a ser depositado na semana que vem.
O novo programa nasce sob a marca da chantagem. O governo condicionou seu pagamento à aprovação do calote em dívidas judiciais. Se os deputados barrassem a emenda, faltaria dinheiro para os necessitados. O argumento era fajuto, mas ajudou o Planalto a cabalar votos na Câmara.
Contra os beneficiários, a chantagem é
ainda mais explícita. O Ministério da Cidadania informou que o novo piso de R$
400 terá “caráter temporário, até 31 de dezembro de 2022”. A data coincide com
o último dia do mandato presidencial. Isso equivale a dizer que o auxílio será
cortado se o capitão não for reeleito.
Criado no início do governo Lula, o Bolsa
Família acumulou prêmios no Brasil e no exterior. O programa unificou e
aperfeiçoou experiências da era FH, como o Auxílio Alimentação e o Bolsa
Escola. Além de reduzir a pobreza, ajudou a derrubar os índices de evasão
escolar e mortalidade infantil. Dias antes de completar 18 anos, foi extinto
por medida provisória.
Bolsonaro parece ter concretizado um antigo
desejo. Quando era deputado, ele chamou o Bolsa Família de “esmola” e “farelo”.
Disse que o programa servia para transformar “pobres coitados” em “eleitores de
cabresto do PT”.
O capitão mudou de tom na campanha de 2018,
mas nunca escondeu o desprezo por quem depende da ajuda. Há duas semanas,
afirmou que os beneficiários “não sabem fazer quase nada”. As filas registradas
em todo o país mostram que seu governo não sabe nem organizar um cadastro.
Ontem o presidente voltou a se eximir de responsabilidade pelo retorno da fome. “A imprensa mostra pessoas pegando osso. Culpa de quem? Do Bolsonaro”, reclamou. O homem só está preocupado com uma coisa: escapar do cartão vermelho do eleitor.
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