Folha de S. Paulo
Presidente não tem slogan, obra ou PIB para
mostrar
Na Semana da Pátria Golpista, a política
"das ruas" e da sociedade cada vez mais incivil apagou-se.
Acabaram-se os panelaços, os manifestos, as cartas. Os últimos fiascos foram
o protesto
da oposição de 12 de setembro e a "nota dos empresários".
O cadáver
da manifestação prevista para o 15 de Novembro está sendo enterrado na
cova rasa das ambições de quem se opõe ao governo. Jair
Bolsonaro também suspendeu seus comícios golpistas. Em vez de
"notas de repúdio", elites do poder e do dinheiro discutem se Sergio Moro vai
ocupar a terceira via ou a terceira margem do rio.
Na falta de promessa recente de golpe, quase todo mundo do poder foi tratar da vida, da eleição, de filiações, de esboços de alianças e do saque dos dinheiros públicos para financiar campanhas. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, entre eles três do Supremo, disseram que Bolsonaro e turma podem ser detidos se barbarizarem a eleição, como em 2018. Tudo se passa como se agora houvesse um cordão sanitário que impedisse Bolsonaro de infectar de morte também o processo eleitoral.
Bolsonaro está em uma muda incógnita.
Conseguiu escapar de parte do noticiário negativo que produzia com a campanha
golpista, um sucesso pragmático de seus regentes do centrão, Arthur Lira
(PP-AL), presidente da Câmara, e de Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e
presidente licenciado do PP. Os militares saíram de fininho do cenário de
desastre que ajudaram a produzir e estão mais desaparecidos do que Paulo Guedes (mas
continuam com as boquinhas).
No entanto, essa gente ainda não parece ter
um plano claro. Bolsonaro
deve entrar no PL, que seria então o novo partido da extrema direita, o
nacional-mensalismo, ficando a União
Brasil (PSL mais DEM) com uma das vagas da direita extrema. O vice
viria do PP, mas isso não está certo, assim como não se sabe como serão as
migrações de parlamentares e outros arranjos locais necessários para 2022, que
podem desfalcar o time bolsonarista.
O Auxílio
Brasil é um pedaço de um plano eleitoreiro parco e ruim. Vai
beneficiar pouco mais gente do que o Bolsa Família com uma
renda nem tanto assim maior que a do auxílio emergencial. Outros 18 milhões
de pessoas que recebiam o auxílio emergencial ficarão sem nada.
O desgoverno constante e o chute no teto de
gastos devem fazer com que 2022 seja um ano de estagnação da economia, na
melhor das hipóteses. Bolsonaro-Guedes jogaram no lixo a despiora rápida do
PIB.
Desde a Semana da Pátria Golpista, início
de setembro, até agora, a taxa de juros de um ano passou de 8,5% para cerca
de 12%, um desastre para o PIB. A inflação deve correr na casa dos 10% anuais
até abril, em parte graças ao dólar Bolsocaro. Mesmo que cresça menos, terá
deixado um rombo enorme e duradouro nos rendimentos dos mais pobres.
Bolsonaro perde menos prestígio nas
pesquisas, mas dois terços do eleitorado rejeitam sua reeleição. Não tem obra
para mostrar. Em 2022, não poderá mentir que é liberal ou lavajatista. No
centro-sul, pelo menos dois candidatos vão tirar alguns de seus votos. Então,
qual é o plano? Contar com a ajuda da elite para triturar Lula (campanha que
deve começar em breve e será forte se o petista não fizer grandes arranjos)?
Os centrões, o bolsonarista e outros, têm
algum tempo, em tese, para escolher uma canoa. A data limite, diz a lenda
política, é abril, mas as opções à vista são poucas e tão diferentes que vão
exigir manobras acrobáticas difíceis até para a exímia picaretagem política
brasileira (por ora, trata-se de Lula e, talvez, Moro). Bolsonaro continua sem
um plano, que era o golpe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário