O
sistema de controle parlamentar contem incentivos incompatíveis
A PAC detém amplos poderes investigativos e focaliza no uso do dinheiro público e na efetividade de programas públicos. Sua presidência cabe ao líder da oposição, que detém a prerrogativa de indicar o Comptroller and Auditor General (AG), que chefia o National Audit Office (NAO), além de aprovar seu plano de trabalho e coordenadores. É como se seu congênere brasileiro —o presidente do TCU— fosse nomeado pela oposição e detivesse amplos poderes.
Criam-se
incentivos efetivos e compatíveis, portanto, para atividade de controle, porque
apenas a oposição ganha potencialmente com a investigação, avaliação e controle
do Executivo. O arranjo é consistente com o bipartidarismo engendrado pela
regra eleitoral distrito uninominal: à oposição cabe não apenas os shadow cabinets
(gabinete sombra), cuja atuação é fundamentalmente simbólica, mas o comando
efetivo do monitoramento do governo.
Onde
o controle ocorre sem arranjos que garantam poder à minoria parlamentar, a
estrutura de incentivos milita na direção contrária. Atividades como CPIs ou
impeachment convertem-se em exercícios inócuos. O caso recente mais
estarrecedor foi o impeachment de Trump, que contou com todos os votos
favoráveis da oposição e apenas um de um partidário do presidente.
A
exceção ocorre quando há defecções totais ou "fogo amigo" no partido
ou coalizão no poder. O fogo amigo ocorre quando atores individuais ou partidos
procuram minar o poder de rivais em disputas intracoalizão, mantendo apoio ao
governo.
No
Brasil, há especificidades. Destaco duas: a primeira, a hiperfragmentação
partidária potencializa a probabilidade de defecções. Há um grupo de partidos
que se tornam "pivotais" por seu papel estratégico.
Eles
facilmente podem transferir sua lealdade em função da popularidade do
presidente para inflar o preço do seu apoio. A segunda são as instituições de
controle. O resultado líquido irá depender de sua robustez e do impacto dos
descalabros denunciados na opinião pública.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
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