O Globo
Enquanto entidades da sociedade civil — e
agora até o Exército — se mobilizam para combater a Covid-19, que acaba de
atingir recordes de casos, o presidente Bolsonaro segue em pregação aberta
contra a vacinação, inclusive a infantil, baseando-se em fake news, ao afirmar
que a letalidade nessa faixa etária é “quase zero”, quando seu próprio
Ministério da Saúde contabiliza 308 mortes de crianças brasileiras entre 5 e 11
anos desde o início da pandemia.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) proíba o presidente Jair Bolsonaro
(PL) de fazer “campanha de desinformação” sobre a vacinação infantil contra a
Covid-19. Em caso de descumprimento, solicitou a aplicação de multa diária de
R$ 200 mil. O pedido foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do
inquérito das fake news. O presidente foi incluído no inquérito em agosto de
2021 por declarações contra o processo eleitoral.
Bolsonaro dá como exemplo orgulhoso de sua irresponsabilidade a negação de vacinar-se e a sua filha de 11 anos. Xinga os defensores da imunização de “tarados por vacina”, fingindo desconhecer que 39 países do mundo já adotam a iniciativa. Dá a entender que “sarados” são os que preferem o vírus. Ao contrário do que ensina a Sociedade Brasileira de Pediatria, que recomenda temer a doença, não o remédio. Enquanto isso, deputados do Centrão, incluindo os do PL, dizem meio a sério, meio de brincadeira, que o motivo de Bolsonaro pregar contra a vacinação em crianças é menos por ideologia e mais por economia orçamentária.
Na última quinta-feira, ele chegou a lançar
suspeitas sobre uma instituição como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), ao questionar: “O que há por trás disso? Qual o interesse da Anvisa
por trás disso aí?”. O diretor-presidente da agência, o contra-almirante
Antonio Barra Torres, que é médico, respondeu em forma de carta-desafio:
— Se o Senhor dispõe de informações que
levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo
nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial
sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que
com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
A nota de Barra Torres, lançada no sábado,
termina com a parte mais desconfortável para Bolsonaro: “Agora, se o Senhor não
possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda
e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”. Bolsonaro — que respondeu à
nota ontem dizendo que não acusou a Anvisa de corrupção — deve saber, mas não
custa lembrar, que o mandato do contra-almirante Barra Torres é de cinco anos e
que ele não pode ser demitido.
Desde que, há quase um mês, a Anvisa
aprovou a vacina para crianças de 5 a 11 anos, o ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, a pedido de seu chefe, se desdobra em manobras protelatórias para
retardar a aplicação, o que lhe valeu ser chamado de “Queirodes”, numa
referência ao rei infanticida Herodes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário