O Estado de S. Paulo.
Após meses submersos, militares voltam à tona contra o negacionismo, a favor da verdade
Depois de um mergulho temerário no
bolsonarismo, dos solavancos que levaram à demissão de toda a sua cúpula e dos
vexames do general Eduardo Pazuello e seus coronéis na Saúde, as Forças Armadas
submergiram e saíram do foco e do noticiário por um bom tempo. Voltam à tona
agora afirmativas e sob aplausos de boa parte da opinião pública que andava
ressabiada com os militares.
Não é trivial que na mesma semana um
contra-almirante da Marinha reaja a acusações levianas do presidente e o
Exército emita diretrizes em perfeita discordância com o que o presidente prega
o tempo todo na pandemia. Até os militares estão perdendo a paciência com o
capitão insubordinado Jair Bolsonaro.
A comparação é inevitável e leva a uma reflexão: o que se espera dos nossos militares? Agir com a sabujice do general da ativa Pazuello a favor do chefe e contra a saúde, ou com a altivez e responsabilidade do contraalmirante da reserva Antônio Barra Torres a favor da ciência?
Pazuello desmereceu o Exército ao fazer
papel de bobo na Saúde, enquanto Bolsonaro e seu gabinete paralelo é que
mandavam e coronéis da pasta se metiam em escândalos. “É simples assim: um
manda, o outro obedece”, disse o general.
Já Barra Torres, que também é médico,
preside a Anvisa e teve um mau momento sem máscara numa aglomeração com
Bolsonaro. Sua lealdade, porém, é à ciência e à agência, seus quadros e
decisões técnicas. Lá atrás, já advertia contra a cloroquina. Depois, disse a verdade
na CPI da Covid. Agora, é firme contra insinuações inaceitáveis.
Bolsonaro não deixou alternativa a ele ao
dizer que há “interesses” (econômicos?) da Anvisa na vacinação das crianças. Já
o almirante deu duas alternativas ao acusador: ou se retrata ou prova que teve
corrupção, sob risco de prevaricação.
Já o Exército incomodou o presidente com
diretrizes de combate à pandemia. Nada demais. Só a atualização da condenação a
mentiras (hoje fake news) já prevista no Código Penal Militar e das regras
anticovid adotadas pelo general Paulo Sérgio Oliveira antes mesmo de assumir o
Comando da Força.
O presidente queria um desmentido quanto às
fake news e à exigência de vacinas, mas o comandante explicou a ele num café da
manhã que apenas alinhou suas medidas com as da Defesa. Está tudo lá. Bolsonaro
iria bater de frente com mais um ministro, o general Braga Netto, seu apoiador?
O que continua nebuloso para civis, até do
Centrão, e militares, até bolsonaristas, é o que Bolsonaro ganha, ou acha que
ganha, com seu negacionismo absurdo.
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