Folha de S. Paulo
Câmara vota projeto que proíbe e
criminaliza uso da palavra Bíblia fora da religião
Em 1964, Stanislaw
Ponte Preta, heterônimo do jornalista Sérgio Porto, publica o livro
"Garoto Linha Dura", título que alude ao ambiente pesado do país,
sobretudo à perseguição política, censura e deduragem. "Escolhi para
título a história do garotinho que se deixou influenciar pelo mais recente
método de democratização posto em prática no Brasil", explica o autor.
Pedrinho, o tal garoto linha dura, para fugir do castigo por ter quebrado uma vidraça jogando futebol na rua, entrega um colega e diz ao pai: "Esse menino do vizinho é um subversivo desgraçado. Não pergunta nada a ele não. Quando ele vier atender a porta, o senhor vai logo tacando a mão nele".
Ao longo dos primeiros anos da ditadura
militar, Stanislaw se dedica, com espanto e revolta, ao "Febeapá", um
relatório publicado na imprensa com pequenas histórias absurdas que se tornaria
um documento da História do Brasil: "Notei o alastramento do festival de
besteira depois que uma inspetora de ensino no interior de São Paulo, ao saber
que seu filho tirara zero numa prova de matemática, não vacilou em apontar às
autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista".
Os bedéis ressentidos estão hoje no poder.
A diferença em relação ao passado é que o idiota sob Bolsonaro faz um
julgamento elevado de si mesmo, sente-se orgulhoso da própria imbecilidade. No
Febeapá, os estúpidos ainda tinham capacidade de sentir vergonha. Não é o caso
do deputado Pastor Sargento Isidório, que propôs um projeto para barrar a
"Bíblia gay". É o auge do festival, cuja edição moderna vem ampliada.
Além das besteiras, avança no autoritarismo.
A Câmara bota fé nos delírios do pastor.
Aprovou um pedido de urgência na votação que proíbe e criminaliza o uso da
palavra Bíblia
fora do contexto religioso. Eu posso parar na cadeia se escrever que
"Riso e Melancolia", de Sergio Paulo Rouanet, é uma bíblia dos
estudos machadianos.
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