Folha de S. Paulo
Felizmente, a lista desses políticos é
reduzida
Aqui se faz, aqui se paga, assevera o
ditado popular. Mas nem sempre. Arthur
do Val disse absurdos sobre as mulheres ucranianas, suas declarações
vazaram e ele agora sofre as consequências. Teve de renunciar à pré-candidatura
ao governo paulista e muito provavelmente terá seu mandato de deputado estadual
cassado.
Quer você considere esse tipo de cancelamento uma forma de justiça rápida, quer o veja como uma manifestação da tirania da maioria, simplesmente não há como evitar que as pessoas reajam ao que entendem ser uma grave violação moral. Em tempos de redes sociais, esse sentimento pode converter-se instantaneamente numa onda de indignação que leva tudo em seu caminho.
O curioso é que o fenômeno não se aplica a
todos. Nem a todos os políticos. Existe um seleto grupo de homens públicos que
parece ter licença para dizer os piores despautérios e escapar, não a críticas,
mas ao cancelamento. No folclore político, eles são conhecidos como candidatos
teflon, nos quais nada gruda.
Um caso clássico é o de Donald Trump. Na
campanha de 2016, vazou um áudio em que ele se vangloriava de poder agarrar
mulheres por seus órgãos sexuais sem que nada lhe acontecesse. E nada
aconteceu. Para ser mais preciso, houve queda leve e transitória nas pesquisas,
mas o escândalo não o impediu de vencer o pleito. No Brasil, temos Jair
Bolsonaro. Ele dá uma declaração impudicamente sexista por mês. A campeã,
creio, é aquela em que ele classificou a própria filha
como uma fraquejada.
O problema são os eleitores de direita, que
são trogloditas, dirá o eleitor de esquerda. Até concordo, mas Lula também faz
parte do grupo dos políticos teflon. Ele já afirmou que a cidade de Pelotas era
um polo exportador de homossexuais, sem sofrer nada parecido com um
cancelamento.
Felizmente, a lista de políticos ultracarismáticos com salvo-conduto para dizer qualquer barbaridade e se dar bem é reduzida.
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