Correio Braziliense
O plano da ética deixou de
ser uma prioridade para a maioria dos eleitores, mas ainda é uma variável que
pode decidir a eleição à Presidência
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
confirmou, ontem, que vai mesmo convidar o ex-governador de São Geraldo Alckmin
para ser o vice na sua chapa à Presidência, a despeito das resistências do PT e
de partidos de esquerda que o apoiam, como o PSol. Alckmin deve se filiar ao
PSB para consolidar a aliança, independentemente da disputa entre o ex-prefeito
Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB). O lançamento da
chapa deve ocorrer em meados de abril. O líder petista tem dito que os
descontentes com a aliança devem procurar outro candidato.
Apesar de ser o líder absoluto nas
pesquisas de opinião, Lula está preocupado com a resiliência do presidente Jair
Bolsonaro, do qual vem mantendo uma distância em torno de 10% das intenções de
votos, segundo as pesquisas. Para quem já participou de muitas eleições, perdeu
três e ganhou duas, essa diferença é muito pequena para se subestimar o
adversário. O “já ganhou” petista não fez a cabeça de Lula. Avalia que
Bolsonaro ainda tem a possibilidade de se reeleger, porque sua candidatura
parece ter um lugar garantido no segundo turno.
Lula ancora sua candidatura na militância de esquerda, no recall de seu governo (2003-2010) junto às parcelas mais pobres da população e na ojeriza à Bolsonaro de parte da classe média. O presidente da República também tem uma relação consolidada com os mundos rural, que migrou para as cidades do interior; evangélico, com o qual tem identidade do ponto de vista dos costumes; e com os setores reacionários, que idealizam o antigo regime militar e defendem uma espécie de ditadura do Executivo.
Essa polarização está inviabilizando o
surgimento de uma candidatura da chamada “terceira via”. Por mais que tente
ampliar sua campanha, o ex-governador Ciro Gomes (PDT) não consegue ocupar esse
espaço porque é contingenciado por Lula, à esquerda, e ao mesmo tempo muito
identificado com o petista para conquistar os eleitores de centro. Situação
diametralmente oposta é a do ex-juiz Sergio Moro, que não está conseguindo
penetrar no eleitorado bolsonarista como imaginava e, por causa do perfil
conservador, também enfrenta resistência até mesmo de setores liberais.
O fracasso”nem nem”
Num encontro aparentemente promissor,
domingo, em São Paulo, os presidentes do PSDB, Bruno Araújo, do MDB, Baleia
Rossi, e do União Brasil, Luciano Bivar, com participação da senadora Simone
Tibet (MS), firmaram um pacto para apoiar uma candidatura única, a ser definida
entre maio e junho. O encontro contou com o apoio velado do governador de São
Paulo, João Doria, que já manifestou a intenção de ter a senadora como vice. A
emedebista não tem nada a perder, porque pode até consolidar sua candidatura
como alternativa, em caso de desistência de Doria. A ideia dos três partidos,
por hora, é formar uma coligação, na qual o Cidadania também participaria como
coligado, por ter aprovado uma federação com o PSDB.
Entretanto, no campo da chamada “terceira
via” falta uma definição: a filiação ou não do governador do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite, ao PSD de Gilberto Kassab. Os dois estão para ter uma conversa
definitiva hoje. O tucano gaúcho foi derrotado por Doria nas prévias do PSDB,
que deixaram feridas não cicatrizadas. Uma ala do partido, liderada pelo
deputado Aécio Neves (MG), tenta convencê-lo a permanecer na legenda, na
expectativa de que Doria acabe desistindo de concorrer. Outra ala, encabeçada por
Tasso Jereissati e José Aníbal, apoia sua intenção de se desligar da legenda
para ser candidato, porém, namora a candidatura de Tebet.
Esses candidatos juntos não chegam a 20% de
eleitorado. Sem um mínimo de convergência, ninguém chegará ao segundo turno. Na
prática, a “terceira via” está se estreitando muito. Não é capaz de viabilizar
uma alternativa, porém impede uma vitória de Lula no primeiro turno.
O embate entre Lula e Bolsonaro se
estabelece, principalmente, no plano econômico, onde o desempenho do governo do
petista foi muito superior, não importa se deixou o governo anabolizado. No
plano político, é um confronto ideológico radicalizado, do tipo esquerda x
direita, que os setores moderados da sociedade não aceitam. O terceiro plano é
o da ética, que deixou de ser uma prioridade para a maioria dos eleitores, mas
ainda é uma variável que pode decidir a eleição.
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