O Estado de S. Paulo.
PT moderado quer Lula como ‘centro’, ‘transição’ e ‘reconstrução’
Aposição do ex-presidente Lula na disputa
presidencial já foi bem mais confortável, mas o presidente Jair Bolsonaro vem
demonstrando capacidade de reação e isso mexe não só com os nervos, mas com as
estratégias do PT. O lado moderado aconselha Lula a usar três carimbos para
ampliar seu leque de apoio e escapar da bolha exclusivamente de esquerda.
O primeiro carimbo: ele seria o verdadeiro
“candidato de centro”. O segundo: será um “presidente de transição” e não
disputará um quarto mandato. O terceiro: sua missão é “reconstruir o País”.
É uma estratégia forte, mirando PSDB, Cidadania, MDB, PSD e a própria Rede. Ou seja, para atrair e segurar votos de centro e centro-esquerda que há em todas essas siglas e evitar uma debandada para Bolsonaro no caso de falência da terceira via.
Esse risco é ainda mais concreto no caso de
Sérgio Moro, do Podemos, que mantém acesa a chama da terceira via e tira votos
à direita, ou seja, de Bolsonaro. Lula precisa que Moro continue na disputa e
demonstre alguma viabilidade eleitoral.
Se é muito improvável os eleitores de Moro
migrarem para Lula, o petista precisa evitar que escorram de volta para
Bolsonaro.
Ele tem a caneta e cargos e não tem o menor
prurido em usar tudo isso a seu favor na campanha, inclusive para buscar de
volta bolsonaristas arrependidos.
Ao ter Geraldo Alckmin como troféu, Lula
abre a porta – e um pretexto – para ampliar sua candidatura até para parcelas
da direita. Com a dificuldade de João Doria em deslanchar, o racha no PSDB e a
aflição em evitar Bolsonaro, esse é um movimento quase natural.
Falar em “presidente de transição” remete a
Itamar Franco, que substituiu Fernando Collor de Mello depois do impeachment,
se uniu a Fernando Henrique Cardoso, aos tucanos e aos melhores quadros da
economia (ainda hoje, aliás) do País. Um sucesso.
Lula não é Itamar, comandou a Presidência
com energia, tem ideias muito firmes sobre as questões nacionais e não
entregaria o governo para terceiros, mas a ideia é mostrar que tem capacidade
de atrair bons quadros fora do PT, reduzir a ojeriza da oposição e mais: ele
faz 77 anos em outubro. Reeleição?
Aí entra a “transição para reconstrução”,
com a tragédia Bolsonaro na saúde, ambiente, educação, cultura, economia e na
própria política, com um clamor na sociedade, independentemente de esquerda,
direita e centro, para refazer o País.
Se Lula vai seguir os moderados, ou os seus
radicais, ou o seu ressentimento, são outros 500. Mas esse é o melhor rumo para
uma campanha que tem Bolsonaro nos calcanhares e vai ser alvo de intensa
pancadaria.
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