O Globo
Começa nesta quinta-feira o mês do
vale-tudo partidário. Graças à aguardada janela criada e reforçada em
sucessivas mudanças na legislação eleitoral, deputados poderão zanzar por
legendas ao seu bel-prazer até o início de abril sem correr o risco de perder
os mandatos.
Mas não ficará restrito a eles o vaivém
deste mês. Também pré-candidatos a governador e a presidente aproveitam o
saldão de siglas para experimentar que figurino melhor lhes convém para a
disputa de outubro.
Será um mês de muita conversa de pé de
ouvido, muita promessa de casa, comida e roupa lavada e, ao fim, partidos hoje
grandes podem terminar minguados, bem como legendas antes acanhadas podem sair
portentosas.
No cenário nacional, algumas das mudanças
ensaiadas dizem respeito ao PSDB e ao movimento de diáspora que pode ser
deflagrado na janela.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, é o peixe mais graúdo nesse aquário. Sua saída do PSDB depende de uma
resposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que ficou de dizer depois do
carnaval ao PSD se vai ou não se colocar na disputa pelo Planalto.
A esperada saída de cena do senador mineiro deverá vir com a justificativa de que o Senado exigirá muito dele, o que imediatamente deflagará sua campanha para ser reeleito para o posto na próxima legislatura.
Caso esse prognóstico se confirme, a
pressão sobre Leite será grande. Caberá a ele analisar se vale a pena renunciar
ao governo nove meses antes do término do mandato e dar uma explicação
convincente para fazê-lo depois de ter sido derrotado por João Doria nas
prévias partidárias. Solucionadas essas duas primeiras dificuldades, restará
uma adicional: confiar que Gilberto Kassab levará até o fim sua candidatura e
que ele não terá renunciado ao governo gaúcho para morrer na praia. Não se
trata de uma equação fácil, e os riscos são imensos.
Caso decida por uma saída conservadora,
caberá a ele outra decisão: disputar ou não a reeleição, algo que sempre disse
que não faria.
A decisão de Leite deverá ter impacto na
bancada do PSDB na Câmara, que poderá sofrer defecção significativa caso a
candidatura de Doria prossiga. Os destinos de até dez deputados tucanos seriam
múltiplos, numa diáspora que levaria muitos tucanos à área de influência do
bolsonarismo (onde na verdade já estão, graças ao poder de atração do orçamento
secreto).
O trânsito desenfreado da janela de trocas
será uma “prévia” a indicar a chance de sucesso das federações partidárias,
instrumento visto com desconfiança por caciques e parlamentares, por engessar
as legendas em todo o país durante um prazo longo.
O problema é também do calendário
eleitoral. As federações têm de ser seladas antes das convenções para escolha
dos candidatos — sem que haja tempo, portanto, para ver quais dos muitos nomes
postos em campo hoje seguirão no páreo quando for para valer.
No cenário atual, as únicas federações
garantidas se assemelham mais a anexações de legendas sem chance de
sobrevivência pelas próprias pernas que à união de esforços de legendas com
tamanho e propósito semelhantes. É o caso do Cidadania com o PSDB e do PCdoB
com o PT.
Partidos médios e grandes, como MDB e PSB,
têm mais a perder caso entrem em federações com outros maiores ou de tamanho
equivalente, e a aposta dos dirigentes é que é muito difícil os entendimentos
ora em curso prosperarem.
Transpostas todas essas datas, para troca
de partidos, renúncias ou desincompatibilizações e formação de federações, terá
decantado toda a espuma que atualmente cobre o mar das eleições deste ano.
Quando isso acontecer, lá em maio, será
possível vislumbrar um cenário mais realista na disputa pela Presidência. Até
lá, só Lula e Bolsonaro estão assegurados na “cédula”. Todos os demais dependem
desse mexe-mexe que começa em março.
Nenhum comentário:
Postar um comentário