Folha de S. Paulo
Resultado do PIB do ano de 2021 deverá ser
positivo, segundo previsões
Na próxima sexta-feira vamos conhecer
o resultado
do PIB do quarto trimestre e do ano de 2021. De acordo com as previsões do
Boletim Macro IBRE, o resultado será positivo. Podemos comemorar? É sinal de
retomada da economia brasileira após dois trimestres de contrações moderadas?
Infelizmente não.
Em primeiro lugar, já era amplamente
previsto um crescimento no último trimestre do ano, pois a vacinação foi a
principal alavanca da retomada econômica doméstica no ano passado: o avanço
significativo da vacinação, teve repercussões positivas sobre o ritmo e o
perfil de recuperação da economia.
Apesar de todos os percalços, o processo de
reabertura econômica avançou, sem gerar um aumento no número de novos casos e de
mortes por Covid-19. Ao contrário, o avanço da vacinação permitiu uma
abertura mais segura da economia, sem que se perdesse o controle da pandemia.
Consequentemente, o processo de normalização da economia seguiu em frente, ainda que com elevada heterogeneidade entre os setores.
De fato, os setores que foram mais afetados
pela pandemia cresceram, com destaque para os serviços prestados às famílias.
Concomitantemente, porém, o varejo e a indústria apresentam resultados
negativos, pois a expectativa era a de normalização da cesta de consumo das
famílias, com a volta da demanda por serviços, em detrimento aos bens. Além
disso, os serviços públicos também mostraram bons resultados no período, após
recuarem muito com a pandemia. Sem surpresas aqui.
Entretanto a nova cepa da ômicron
interrompeu temporariamente este processo de normalização setorial, mas as
expectativas, pelo menos neste front, continuam favoráveis.
Em segundo lugar, outros fatores
contribuíram para aumentar as preocupações com o desempenho futuro da economia.
Além dos velhos desafios, o principal fator de preocupação é a inflação, que
segue muito elevada e tem surpreendido consistentemente para cima e se
espalhado por todos os preços da economia.
A alta
inflação, somada ao baixo crescimento da renda e à piora nas condições
de crédito, tem efeitos negativos sobre o poder de compra das famílias. Os
riscos fiscais se intensificam, gerando mais incerteza. As tensões geopolíticas
apenas agravam essa tendência doméstica negativa.
Em resumo, devemos terminar 2021 em torno
de 2,5% abaixo da tendência de crescimento pré-pandemia. Apenas relembrado que
esta tendência já era medíocre, pois entre 2017 e 2019, a média de crescimento
anual foi de apenas 1,4% ao ano. Mas, mesmo sendo um valor muito baixo, nem
conseguimos alcançar esta tendência anterior e já perdemos fôlego.
*Economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre)
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