Em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, candidatos apoiados por líder petista e nomes ligados ao presidente da República aparecem com mais chances nas pesquisas e devem repetir embate nacional
Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO — Três dos cinco estados
brasileiros com mais eleitores caminham para ver a polarização do plano
nacional se repetir em suas disputas ao governo na eleição, com um candidato
ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outro ao presidente
Jair Bolsonaro (PL) disputando a preferência do eleitorado. Tanto petistas como
bolsonaristas consideram provável a repetição do duelo nacional em São Paulo,
Rio e no Rio Grande do Sul.
A eventual ocorrência do embate em mais
locais não é descartada, mas só ficará clara ao fim do período de inscrição das
chapas. É esperado que no Nordeste, onde Bolsonaro tem baixos índices de
popularidade, os candidatos não se vinculem ao presidente, e as eleições para
governador sejam influenciadas mais pelas conjunturas locais.
— É uma eleição nacional talvez com mais importância e, portanto, influência, que as demais. Pode ser que o espírito da eleição nacional seja tão forte e tão irresistível que se reproduza nos estados — analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
As pesquisas têm apontado uma consolidação inédita do voto nos dois primeiros colocados da disputa presidencial. Pela primeira vez em oito eleições, o líder e o segundo colocado iniciaram o ano da disputa escolhidos por metade da população no chamado voto espontâneo, aquele em que o entrevistado diz quem prefere sem ser apresentado à lista de nomes. Em dezembro, o Datafolha constatou que Lula tem 32% das intenções de voto espontâneo, contra 18% de Bolsonaro. Já o Ipec do mesmo mês dá 40% para o petista e 20% ao presidente.
Terceira via difícil
Entre os bolsonaristas, a avaliação é que
os candidatos da terceira via, assim como tem acontecido na disputa
presidencial, também terão dificuldade nas corridas para governador.
— A gente tem uma percepção de que essa vai
ser uma campanha ideológica da esquerda contra a direita. Os que não se
posicionarem de forma bem definida vão ficar pelo caminho. Acabará refletindo
nos estados o que está acontecendo no cenário federal — afirma o deputado
Capitão Augusto (SP), vice-presidente do PL.
Caso se consolide em São Paulo, o estado
com mais eleitores do país (31,9 milhões), a polarização entre um representante
do lulismo e outro do bolsonarismo derrubaria uma supremacia de 28 anos do
PSDB.
As pesquisas mais recentes colocam o
petista Fernando Haddad na liderança. O ex-governador Márcio França (PSB) ocupa
numericamente o segundo lugar, mas há a possibilidade de ele deixar a disputa
por causa do acordo nacional entre PT e PSB. O candidato de Bolsonaro será o
ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que planeja se filiar ao
PL, sigla do presidente.
— Bolsonaro tem em São Paulo uma
perspectiva de uns 25% de eleitores mais fiéis, e tudo indica que o Tarcísio
tem capacidade de ser o beneficiário da transferência desses votos. Acho que a
maior possibilidade é de um afunilamento do Haddad com ele. A tendência é que a
campanha nacional seja muito polarizada, e isso vai se refletir na maioria dos
estados — diz o secretário-geral do PT de São Paulo, Chico Macena.
Ele ressalta que o vice-governador Rodrigo
Garcia (PSDB) não pode ser descartado, mas terá que encontrar uma forma de se
descolar da alta rejeição do tucano João Doria.
No Rio, terceiro estado com mais eleitores
(12,5 milhões), pesquisa internas em poder dos partidos retratam um cenário em
que Marcelo Freixo (PSB), aliado de Lula, e o governador Cláudio Castro (PL),
que tem o apoio de Bolsonaro, aparecem na frente.
O professor Carlos Melo ressalta, porém,
que há a possibilidade de o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), influenciar na
eleição e impedir a consolidação da polarização. Paes quer lançar o
ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) e vem conversando com o
ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).
Carona no "vácuo"
No Rio Grande do Sul, quinto estado com
mais eleitores (8,4 milhões), o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, que vai
trocar o União Brasil pelo PL, é apontado como um dos mais fortes da disputa
pelos adversários. Caso o governador Eduardo Leite (PSDB) não dispute mesmo a
reeleição, a previsão é que o bolsonarista tenha como principal adversário um
candidato de esquerda — o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) também almeja o
posto de candidato de Bolsonaro.
O deputado Paulo Pimenta, presidente do PT
gaúcho, usa o argumento da polarização para defender a manutenção da
pré-candidatura do petista Edegar Pretto em vez do apoio ao ex-deputado Belo
Albuquerque, como tem cobrado o PSB. Albuquerque, segundo ele, “não consegue ir
no vácuo do Lula”.
— Quando há candidatos fortes à Presidência, os palanques podem reverberar, compondo quadros que convirjam, já que a competição gira em grande parte pelo controle do Executivo nacional — diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociências Cognitiva e Social do Mackenzie e associada do Doxa/Iesp.
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