Folha de S. Paulo
Bolsonaro e seus generais agem para
inflamar o país
Os milicianos têm método. Em sua expansão
territorial no Rio, saindo da zona oeste em direção à zona sul, eles oferecem
guaritas de segurança nas ruas. Após a recusa, vem a onda de furtos e roubos de
celulares e carros, os quais —por milagre!— são encontrados intactos no dia
seguinte. Cria-se a situação e, com ela, nova oferta de proteção,
ameaçadoramente irrecusável. É o teatro do crime.
Em Brasília encena-se no momento o teatro do golpe. O deputado Daniel Silveira —ex-PM que rasgou a placa em homenagem a Marielle Franco— sabia desde sempre que seria condenado pelo STF e poderia pegar longo tempo de prisão e perder os direitos políticos. Mesmo assim, fez o jogo do chefe, pois também sabia que o indulto estava engatilhado. A bela palavra "graça" nunca foi tão aviltada.
Em arranjo disposto nos mínimos detalhes,
Silveira —que nas últimas semanas conversou diversas vezes com Bolsonaro e os
generais do Planalto— nem disfarçou suas intenções. Ao contrário, agiu da
maneira mais exibicionista possível, recusando-se a usar tornozeleira, dizendo
que não aceitaria a decisão do Supremo e exigindo um julgamento no Superior
Tribunal Militar.
As costas quentes estendem-se até o
presidente da Câmara, Arthur
Lira, que não levou ao plenário um parecer do Conselho de Ética sugerindo a
suspensão do mandato de Silveira. Para os tolos ou para os golpistas (ambos
navegam no mesmo barco), o deputado continuou vestindo a fantasia de defensor
das liberdades de opinião.
Sem conseguir aproximar-se
significativamente de Lula, o líder das pesquisas, e com rejeição de 60%, Bolsonaro
está vendo o caminho da reeleição se fechar. Não tem como explicar a corrupção
no governo, o desemprego, a inflação, a fome. Resta-lhe manter as milícias
digitais incendiadas, afrontar, ao lado das Forças Armadas, o STF, adversário preferido, e tumultuar o país. Os
sobressaltos estão aí. Virão outros.
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