Folha de S. Paulo
A menos que julgue que ambos são iguais nos
vícios e nas virtudes, você consegue decidir contra quem precisa votar no
pleito deste ano
Como a maioria dos humanos, Luiz Inácio
Lula da Silva tem defeitos e qualidades. Ele foi presidente ao
longo de dois mandatos e fez gestões que foram bem avaliadas pela maioria da
população. Pegou uma conjuntura externa favorável e conseguiu fazer com que
seus dividendos chegassem tanto a pobres como a ricos e à classe média. Pode
parecer fácil, mas não é tão trivial. Em questões civilizacionais e temas de
direitos humanos, sempre colocou-se do lado correto.
Talvez mais importante na conjuntura em que vivemos, Lula revelou ter algum compromisso com o sistema democrático. Embora tenha tido condições políticas de torcê-lo para beneficiar-se —ele poderia, por exemplo, ter levado o Congresso a aprovar o fim do limite constitucional às reeleições, como fizeram tantos líderes populistas mundo afora—, preferiu não fazê-lo. Também evitou impasses com outros Poderes. Não é pouco.
É claro que, sob critérios mais rigorosos,
a forma que ele escolheu para influenciar parlamentares, que incluiu o
pagamento semiestruturado de propinas (mensalão e petrolão),
pode ser descrita como uma violação ao jogo democrático. Há também a questão
ética. Mesmo que você considere que não existia nenhuma prova de crime cometido
por Lula, ele não impediu a instalação do esquema de corrupção na Petrobras (ou
não percebeu, o que seria ainda pior). Também estabeleceu um relacionamento com
empreiteiros confessadamente corruptos que é no mínimo problemático.
Como a maioria dos humanos, Jair Bolsonaro tem defeitos e deve ter qualidades, ainda
que eu não tenha sido capaz de identificar nenhuma.
O princípio do mal menor é praticamente um
universal filosófico, isto é, aparece nas mais diferentes tradições
filosóficas. A menos que você julgue que ambos são rigorosamente iguais no
cômputo dos vícios e das virtudes, não deve ter dificuldades para decidir
contra quem precisa votar no pleito deste ano.
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