O Estado de S. Paulo
Até o Centrão tenta conter golpismo de
Bolsonaro e maluquices dos bolsonaristas no Congresso
Ok, pode-se alegar que o ministro Alexandre
de Moraes estica muito a corda, 8 anos e 9 meses por ameaças é um exagero e o
Supremo tem enviado sinais desencontrados à sociedade. Mas daí o presidente da
República consumir duas horas numa homenagem a um sujeito condenado e
desqualificado como Daniel Silveira?
Pode-se lembrar que Jair Bolsonaro é fã de Pinochet, Stroessner e Brilhante Ustra e sua família já condecorou um miliciano depois morto pela polícia, mas desta vez a papagaiada foi no Planalto, que não é de Bolsonaro nem do governo, mas do Estado brasileiro, e teve lances absurdos: o presidente abraçado a Silveira, o condenado divertindo-se com o decreto que o indultou, 22 parlamentares discursando.
É um tapa na cara do Supremo e da Nação, sufocada pela crise econômica e a inflação galopante divulgada no mesmo dia. Os bolsonaristas estão ocupados em endeusar Daniel Silveira, o povo quer comer, morar, estudar, tratar da saúde, se locomover e trabalhar.
E a Câmara? Premiou Daniel Silveira com
cinco comissões! Uma delas é nada mais, nada menos, a de Constituição e Justiça
(CCJ). Um valentão condenado por dez votos a um pelo Supremo na CCJ, “mãe” de
todas as comissões, que julga exatamente a constitucionalidade das propostas?!
Atenção, porém! Isso é coisa de
bolsonaristas, que caíram de paraquedas no Congresso com os ventos da “nova
política” e do “Messias”, mas o Centrão, frio, pragmático e mais preocupado com
orçamentos secretos, não gostou da brincadeira. Até para o Centrão, tudo tem
limite.
Uma no cravo, outra na ferradura: os
bolsonaristas meteram o condenado na CCJ, mas perderam a presidência da
comissão. Saiu Bia Kicis e era para entrar Major Victor Hugo, mas o acordo
previa que o novo presidente fosse do PSL e Hugo migrou para o PL de Bolsonaro.
Assim, deu Arthur Maia, do União Brasil, fusão de PSL e DEM.
Registre-se que seis bolsonaristas,
inclusive Eduardo Bolsonaro, são agora alvo do Conselho de Ética e que os
presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, postaram nas
redes, quase ao mesmo tempo, o apoio ao sistema eleitoral. Logo, contra os
ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao TSE.
O caldeirão está fervendo e a grande
pergunta é até onde Bolsonaro quer chegar. Só nos faltava contar com o Centrão
para segurar os ímpetos enlouquecidos de Bolsonaro no Executivo e dos
bolsonaristas no Congresso, mas é exatamente isso que está pintando no
horizonte. Só não dá para contar nem com uns, do Centrão, nem com os outros,
bolsonaristas, para defender o Supremo. Aí, a questão é bem diferente...
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