O Globo
Em novo capítulo de sua permanente crise
interna, o PSDB convocou para terça-feira uma reunião ampliada da Executiva
Nacional, com a participação de deputados federais e senadores, para definir o
futuro da pré-candidatura de João Doria à Presidência.
A convocação foi feita pelo presidente da
sigla, Bruno Araújo, neste sábado, e a data coincide com a véspera daquela em
que o partido, o Cidadania e o MDB disseram que anunciariam um candidato único
do chamado centro para concorrer ao Planalto.
O mote para a convocação da assembleia foi
uma carta encaminhada por Doria ao dirigente, por meio de seu advogado, Arthur
Rolo, também neste sábado, em que depois de um longo arrazoado sobre a
realização das prévias e sua validade como instrumento de definição do caminho
do partido, diz que usará de "todas as forças para fazer prevalecer a
vontade democraticamente manifestada pela imensa maioria dos filiados do
PSDB".
Na carta, Doria diz que continua "à disposição" de aliados para a formação de alianças, mas que não aceita abrir mão do protagonismo do PSDB no processo -- ou seja, só aceita aliança se for dele a cabeça de chapa.
Aliados de Doria acusam Araújo de costurar,
juntamente com os demais partidos que restam na tentativa de aliança, uma
desistência da candidatura de Doria em prol do apoio a Simone Tebet (MDB).
Neste sábado, o depiutado federal e ex-presidenciável tucano Aécio Neves, um
dos que mais trabalharam contra Doria nas prévias, surpreendeu ao, em
entrevista à "Folha de S.Paulo", acusar o partido de "trair"
Doria e defender a candidatura dele.
Na reunião da terça, Araújo deverá tentar
obter maioria para deliberar contra a candidatura de Doria, com o argumento de
que a rejeição do ex-governador de São Paulo em pesquisas o torna inviável. Um
argumento que vem sendo evocado também é o fato de que o paulista seria um
candidato "pesado" para postulantes do PSDB aos governos de Estados,
sobretudo do Nordeste, que prefeririam Simone por ter uma imagem mais neutra.
O grupo de Doria, de sua parte, argumenta
que, além de ter vencido as prévias, o tucano aparece mais bem posicionado que
Simone Tebet em todas as pesquisas registradas nacionalmente, o que torna
ilógico o argumento usado para que o nome dela prevaleça ao dele.
Da forma como o impasse está colocado, se
torna praticamente inevitável que a disputa seja judicializada, o que deverá
emperrar a definição da tal candidatura única -- que já vem naufragando desde
que o União Brasil, o maior e mais "rico" dos antes integrantes da
até aqui malfadada Terceira Via, pulou fora do barco.
Para começo de conversa, Doria e seu
advogado não reconhecem a legitimidade jurídica da reunião convocada por Araújo
para deliberar se ele será ou não candidato. Ela não se sobrepõe, como
instrumento de decisão, à prévia.
"Estou seguindo rigorosamente o
estatuto do PSDB e a jurisprudência do TSE. A própria convocação das prévias
pela Executiva Nacional significa que ela deliberou por candidatura própria,
que foi chancelada por 30 mil filiados", diz o advogado Arthur Rollo.
Um espectador privilegiado da longa crise
tucana resume o atual estágio: "O Doria precisava ganhar as prévias por
conta do projeto de São Paulo. E agora querem rifá-lo em nome do mesmo
projeto", diz, na mesma linha da entrevista de Aécio.
Ele se refere ao fato de que Doria
precisava vencer para abrir caminho para a candidatura de seu então vice e hoje
governador do Estado Rodrigo Garcia, e agora a própria seção paulista pressiona
contra sua candidatura, por avaliar que ele atrapalha o crescimento do sucessor
no Estado.
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