sexta-feira, 24 de junho de 2022

Bernardo Mello Franco: O relógio corre a favor de Lula

O Globo

No futebol e na política, o relógio corre a favor de quem está ganhando. A nova pesquisa Datafolha apontou um cenário de estabilidade na disputa presidencial. É boa notícia para Lula, que mantém uma liderança folgada a cem dias do primeiro turno.

O ex-presidente tem 47% das intenções de voto, contra 28% de Jair Bolsonaro. Há um mês, os dois apareciam com 48% e 27%, respectivamente. O terceiro colocado, Ciro Gomes, também não se moveu fora da margem de erro: oscilou de 7% para 8%.

Em votos válidos, que excluem brancos, nulos e indecisos, Lula chega a 53%. Isso não garante que ele terá fôlego para vencer no primeiro turno, mas reforça os argumentos dos dirigentes petistas que defendem um giro ao centro para liquidar a fatura em 2 de outubro.

O ex-presidente deu novos sinais nessa direção ao suavizar as diretrizes do programa de governo e ampliar as conversas com empresários. Nesses encontros, ele tem repetido que a promessa de revogar o teto de gastos não significará uma opção pelo descontrole fiscal. O discurso não dá votos, mas pode reduzir as resistências do establishment a uma volta do PT ao poder.

Embora finjam não acreditar nas pesquisas, os bolsonaristas receberam os números com algum alívio. No último mês, o governo foi bombardeado por más notícias, do agravamento da crise econômica ao assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, que evidenciou a omissão federal diante da escalada do crime na Amazônia.

Mesmo assim, Bolsonaro manteve o eleitorado fiel e chegou a se recuperar em alguns segmentos, como homens e evangélicos. Seu maior problema é a rejeição dos mais pobres, que representam metade da população e manifestam ampla preferência por Lula. Isso explica a tentativa desesperada de burlar a lei eleitoral para elevar o Auxílio Brasil a R$ 600 e dar novo benefício a caminhoneiros às vésperas da eleição.

Se o tempo é adversário de Bolsonaro, a proximidade das urnas se torna ainda mais dramática para a tal terceira via. Apesar de toda a visibilidade nas últimas semanas, Simone Tebet oscilou negativamente de 2% para 1%. Está numericamente atrás do nanico André Janones. O general Santos Cruz, que tenta atrair bolsonaristas arrependidos, nem conseguiu pontuar. Sinal de que o eleitor de direita ainda prefere o original aos genéricos.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu acho difícil ter algum bolsonarista ''aliviado'' com o resultado das pesquisas,a diferença é grande demais.