quinta-feira, 7 de julho de 2022

Insegurança alimentar afeta mais de 61 milhões no Brasil, indica ONU

Casos de insegurança alimentar grave cresceram 3,9 milhões de 2014 a 2016 para 2019 e 2021, totalizando 15,4 milhões

Agência O Globo / Valor Econômico

A fome aumentou no Brasil e no mundo em meio às crises sanitária e econômica. É o que aponta o novo relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022”, divulgado ontem por cinco agências da ONU. O número de pessoas atingidas pela fome subiu para 828 milhões em 2021, um aumento de cerca 150 milhões desde o início da pandemia.

No Brasil, 61,3 milhões convivem com algum tipo de insegurança alimentar. Desse total, 15,4 milhões estiveram sob insegurança alimentar grave entre 2019 e 2021, um aumento de 3,9 milhões ante o período de 2014 a 2016.

O relatório é uma produção conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP) e Organização Mundial da Saúde (OMS). A prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave no Brasil em relação à população aumentou de 37,5 milhões de pessoas (18,3%) de 2014 a 2016, para 61,3 milhões (28,9%) de 2019 a 2021. O quadro global também é sombrio. Depois de permanecer relativamente inalterada desde 2015, a proporção de pessoas afetadas pela fome saltou em 2020 e continuou a subir em 2021, chegando a 9,8% da população mundial (8% em 2019 e 9,3% em 2020).

Cerca de 2,3 bilhões de pessoas no mundo (29,3%) enfrentaram insegurança alimentar moderada ou severa em 2021 - 350 milhões a mais em comparação com antes da pandemia de covid-19. Aproximadamente 924 milhões de pessoas (11,7% da população global) enfrentaram a insegurança alimentar em níveis severos, aumento de 207 milhões em dois anos.

O acesso à alimentação adequada é investigado por uma série de instituições, que produzem dados quantitativos e qualitativos sob diferentes metodologias. A fome é um conceito de medição complexa e, por isso, são buscados diversos parâmetros para classificar a questão.

Segundo as Nações Unidas, a insegurança alimentar grave e moderada são medidas com base na Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (Food Insecurity Experience Scale - Fies). Já a Pnad, do IBGE, por exemplo, investiga a fome a partir da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que mede diretamente a percepção e vivência de insegurança alimentar e fome no nível domiciliar.

Em junho, pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que a fome atingiu 33,1 milhões de pessoas no país, um retrocesso de 30 anos. Apesar de as pesquisas se darem sob diferentes metodologias, ambas apontam a mesma tendência: os países estão se afastando de suas metas de acabar com a fome, insegurança alimentar e má nutrição até 2030. Em 2030, 8% da população mundial ainda enfrentará a fome - o que equivale a 670 milhões de pessoas.

“Trata-se de um número semelhante ao de 2015, quando o objetivo de acabar com a fome, a insegurança alimentar e a má nutrição até o fim desta década foi lançado sob a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, informou a ONU, durante a divulgação da pesquisa.

A pesquisa também identificou os efeitos do aumento nos preços dos alimentos ao consumidor decorrentes dos impactos econômicos da pandemia e das medidas colocadas em prática para contê-la. Segundo o relatório, quase 3,1 bilhões de pessoas não conseguiram pagar por uma alimentação saudável em 2020, um aumento de 112 milhões em relação a 2019.

O diretor-executivo do WFP, David Beasley, disse que há um perigo real de que esses números subam ainda mais nos próximos meses. “Os aumentos globais de preços de alimentos, combustíveis e fertilizantes que estamos vendo como resultado da crise na Ucrânia ameaçam empurrar os países ao redor do mundo para a fome. O resultado será a desestabilização global, a fome e a migração em massa em uma escala sem precedentes. Temos que agir hoje para evitar essa catástrofe iminente”, pontuou o diretor do programa da ONU.

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