Folha de S. Paulo
Seja lá quem vencer a disputa desta semana
terá uma vida difícil
Nesta semana, a senadora
Simone Tebet (MDB-MS) tentará se consolidar como candidata da terceira
via. No caso, terceira via na disputa altamente polarizada entre João
Doria e o PSDB.
Na terça-feira haverá uma reunião em que o
presidente do PSDB, Bruno Araújo, tentará convencer o partido a desistir da
candidatura de Doria e apoiar Tebet. Os dois são os únicos candidatos da
terceira via de pé no ringue. Na última pesquisa Ipespe eles tinham,
respectivamente, 3% e 1% das intenções de voto.
Em abril, partidos de centro e centro-direita que se autodenominaram terceira via –PSDB, MDB, Cidadania, União Brasil– haviam combinado uma candidatura comum para 2022. Até agora, não deu muito certo.
A União Brasil retirou-se da frente. Na
semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo publicou editorial reclamando de
tucanos e emedebistas que pretendiam apoiar Bolsonaro. Sergio
Moro, o candidato com mais intenção de voto na terceira via, desistiu da
candidatura em 31 de março.
No mesmo dia, Doria também ameaçou desistir
para evitar uma rasteira de seu vice-governador, Rodrigo Garcia. Doria também
sofreu uma tentativa de virada de mesa liderada por Aécio Neves e Eduardo
Leite. Agora Bruno Araújo quer que a escolha entre ele e Tebet se dê não só
pela posição nas pesquisas quantitativas como também nas qualitativas, que sabe
lá Deus como seriam realizadas.
Tebet, por sua vez, tenta uma manobra
ousada: ganhar o MDB por ter ganho o PSDB. Parece complicado, mas pode dar
certo. De qualquer forma, é difícil que o MDB entre unificado na eleição. No
Nordeste, por exemplo, os emedebistas devem apoiar Lula. Onde Bolsonaro for
forte, deve conquistar um grupo razoável de emedebistas.
Os emedebistas só não estão sabotando Tebet
como os tucanos sabotam Doria porque no MDB ninguém presta muita atenção em
quem o partido está apoiando oficialmente.
Enfim, seja lá quem vencer a disputa desta
semana terá uma vida difícil.
Quem barrou a terceira via foi Bolsonaro.
Como já disse aqui, a terceira via de 2022 é a centro-direita tentando
recuperar a liderança da direita, que perdeu para os extremistas do Jair. Não é
fácil, porque Bolsonaro tem a máquina de governo para pagar orçamento secreto e
mandar o Sachsida liberar gasoduto bilionário para os amigos da rapaziada.
O núcleo duro da base social da direita
brasileira, os empresários, o agronegócio, os pastores, ainda estão com
Bolsonaro. Não é gente suficiente para vencer, mas é a base a partir da qual,
normalmente, um candidato de centro-direita tenta ampliar seu alcance.
Nos últimos meses, Bolsonaro subiu nas
pesquisas só o necessário para matar as candidaturas da terceira via. Depois
foi soltar Daniel Silveira e planejar um golpe.
Imagino que isso seja o que ainda dá alguma
esperança para a terceira via. Se Bolsonaro está preparando um golpe —e é óbvio
que está— é porque acredita que vai perder. Se começar a cair nas pesquisas,
sua base pode rachar. No momento, não parece provável.
Se Bolsonaro não fosse o que é, eu me
divertiria com os partidos que fizeram o impeachment de Dilma patinando no 1%.
Mas não dá. O Doria comprou vacina, Tebet teria comprado. É triste, para o
Brasil, que Bolsonaro os vença. Se vencer, que seja sua última vitória.
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