sábado, 6 de agosto de 2022

Ascânio Seleme - Não tem nada ganho

O Globo

O principal objetivo da campanha de reeleição será aumentar a rejeição do PT e do petismo e, com isso, desestabilizar os números de Lula

O manjado discurso de jogador de futebol depois de boa vitória no primeiro jogo de um mata-mata serve muito bem para a eleição presidencial deste ano. Não tem nada ganho, ainda tem a volta, disse Arrascaeta depois da partida em que o Flamengo bateu o Corinthians por 2 x 0 pela Libertadores. Esse deveria ser também o discurso do PT e de Lula nessa fase da campanha. O que se ouve de petistas, porém, é outra coisa. Repetem que o objetivo é sacramentar a vitória logo no primeiro turno. Não que discurso de vitória seja inapropriado, mas dá a impressão que o PT não trabalha com pesquisas, não enxerga como os eleitores têm se mexido nestes últimos dias.

Lula tem tudo para ganhar no segundo turno e deve ganhar, mas não será fácil esta campanha, que nem começou. Vitória no primeiro turno é apenas um sonho. Pesquisas ainda apontam essa possibilidade, mas o avanço de Bolsonaro deveria desassossegar o PT. Já dá para perceber que ocorre um crescimento do presidente. Como se viu na última pesquisa Genial/Quaest, a distância de Lula a Bolsonaro caiu de 14% para 12%. Entre os evangélicos, Bolsonaro cresceu 14 pontos de março a agosto, tendo hoje 48% deste eleitorado. Uma enormidade que ainda pode aumentar com a entrada na campanha de Michelle Bolsonaro, que fala o idioma da mulher evangélica.

A pesquisa mostrou também que a avaliação negativa de Bolsonaro caiu 8 pontos, e que o apoio ao presidente entre os jovens de 16 a 24 anos subiu 6, reduzindo a diferença para Lula de 28 para 13 pontos percentuais. São más notícias que não podem ser ignoradas pelo PT.

O bolsonarismo vai intensificar na campanha a pauta da difamação baseada na moral e nos costumes. O PT será demonizado com as fake news habituais e outras tantas que serão ainda inventadas. Embora não tenha o perfil de elite, como a maioria dos líderes petistas, Lula não escapará do carimbo de corrupto e ex-presidiário. Mas não será dele a cara do demônio. Essa, todos já conhecem, é a do ministro do STF Alexandre de Moraes, indicado para a função de capeta por Bolsonaro há mais de um ano. O principal objetivo da campanha de reeleição será aumentar a rejeição do PT e do petismo e, com isso, desestabilizar os números de Lula.

Tem mais. O bolso sempre joga papel importante em eleição presidencial. A redução do preço da gasolina já começa a ser medida, e os efeitos da PEC eleitoral terão impacto justamente quando começar a campanha. As duas primeiras parcelas de R$ 600 do auxílio Brasil somadas à possibilidade de se recorrer a um crédito consignado de até R$ 2 mil podem colocar nas mãos das famílias mais pobres R$ 3,2 mil até o final deste mês. No próximo dia 9, uma semana antes da campanha começar oficialmente, as duas primeiras parcelas do auxílio serão depositadas. Não por acaso, a terceira parcela entra na conta dos beneficiários no dia 24 de setembro. Se bobear, o governo ainda antecipa a quarta parcela. É fácil imaginar como este dinheiro será explorado por Bolsonaro. Ou não?

O 7 de Setembro servirá para medir qual terá sido o alcance das medidas eleitoreiras e a profusão de mentiras que já estarão impregnadas na campanha. Se Bolsonaro moderar o discurso golpista, indicará que está contando com a possibilidade de ir ao segundo turno com alguma chance de ganhar. Golpe ele poderá sempre tentar, antes, durante ou depois das eleições. A transferência das comemorações da Independência para o Rio também guarda alguma lógica com este raciocínio. Afinal, com tanques e tropas na Avenida Atlântica, a cena será grandiosa e eloquente mesmo com público menor. Da mesma forma, a presença militar tende a inibir um discurso mais inflamado.

O PT certamente já entendeu que a guerra eleitoral dificilmente acabará no dia 2 de outubro em razão do arsenal de “boas notícias” e da avalanche difamatória que vem por aí comandada por Carlos Bolsonaro. Deve ter entendido também que não cabe mais o salto alto usado até algumas semanas atrás. A hora é de calçar as chuteiras. O jogo bruto vai começar.

Já encheu

Está chata essa bronca sem fim do Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. Tudo sobre o que move o taciturno já foi dito. Jornalistas descreveram sua natureza em matérias e análises; juízes e juristas fizeram sua leitura criminosa; políticos de todos os matizes rechaçaram o golpismo dos ataques. Encheu, Bolsonaro, encheu… Ainda assim, vale aplaudir mais um discurso do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em favor das urnas e do processo eleitoral.

Urgência bajuladora

É constrangedor o papel que o ministro da Defesa está cumprindo ao sempre referendar o chefe nos seus ataques abusados às urnas eletrônicas. Agora, o general reformado Paulo Sérgio pediu ao TSE, em caráter “urgentíssimo”, acesso aos códigos-fonte. Como se ele não soubesse que os códigos estão disponíveis desde outubro do ano passado a todas as entidades de fiscalização do processo, Ministério da Defesa inclusive. A verdadeira urgência do ministro é para bajular Bolsonaro.

O cara de pau

Você pode chamar o colunista de cara de pau. Pode dizer também que ele não tem caráter. Se medido pela régua de Bolsonaro, todos os que assinaram a carta em defesa da democracia são caras de pau e sem caráter. Certamente muitos dos leitores também se enquadram no perfil desenhado pelo presidente, que escancarou seu ódio ao estado de direito atacando um manifesto pela democracia como se tivesse sido escrito contra ele. Não, o documento não foi redigido contra ele, mas por causa dele. Não haveria ação pela democracia se não houvesse também um Bolsonaro golpista.

Os inelegíveis

Do agrupamento de pré-candidatos condenados que podem ser declarados inelegíveis pelo TSE, o mais curioso deles é o Roberto Jefferson. Primeiro, porque está preso. Depois, porque foi lançado candidato a presidente como linha auxiliar de Bolsonaro. Ele disse que a “esquerda se apresenta como um polvo” por ter múltiplas candidaturas. Jefferson quer ser o polvo de Bolsonaro, e aí o risco é enorme. Imagine esse homem, condenado pelo STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com oito braços e oito mãos leves e soltas por aí. De todo modo, Jefferson está enganado, o PT quer mesmo é reduzir candidaturas para tentar levar a eleição no primeiro turno.

É até possível encontrar no Rio um parlamentar tão bom quanto Alessandro Molon, mas não melhor. Desde a sua primeira eleição para deputado estadual, em 2003, Molon se destacou num ambiente repleto de Bolsonaros, Piccianis, Jeffersons, Brazãos, Garotinhos e Quaquás. Foi também um dos mais influentes e coerentes deputados federais nos três mandatos que exerceu em Brasília. Impossível compará-lo a Romário, Zerinho e Portinho, os senadores do Rio, cargo para o qual Molon está sendo rifado pelo pragmatismo do PT e pelo seu pouco caso histórico com o Rio. Aliás, esse desdém com o Rio chegou ao ponto de o partido do Lula cogitar retirar seu apoio a Marcelo Freixo se Molon não desistisse da sua candidatura. Pois é.

Rio inovador 1

Ladrões e malandros no Rio são capazes de tudo. Por isso, vira e mexe túneis da cidade ficam no escuro porque roubam seus cabos de energia. Agora, foi desbaratada uma quadrilha que pretendia roubar trilhos do Metrô. Pior que isso só o famoso sumiço de vigas da Perimetral. Tem mais, são investigados no caso dos trilhos um ex-secretário municipal e seu pai. Pode? O que não pode é o prefeito ficar calado. Eduardo Paes, que indicou o vereador Willian Coelho para a Secretaria de Ciência e Tecnologia, não comentou o caso. Deve achar bobagem explicar onde foi buscar o secretário investigado.

Rio inovador 2

Como ideia original, o orçamento de Arthur Lira virou café pequeno diante da inovação dos cargos secretos do governo Cláudio Castro no Rio. Por que ninguém pensou nisso antes? Imagina que ideia genial contratar secretamente pessoas, pagar seus salários diretamente na boca de caixa e não precisar dar explicações a ninguém. Que instrumento maravilhoso em ano eleitoral. Desde janeiro, foram feitos mais de 91 mil pagamentos a estes contratados pelo governo do estado. Num único dia, em Campos, R$ 538 mil foram sacados em um banco da cidade. Ao contrário de Paes no caso dos trilhos, Castro falou. Disse que a culpa é do banco.

Verde e amarelo

Vai ser difícil se acostumar novamente com o verde e o amarelo. Quando isso acontecer, vai ser emocionante, Míriam Leitão tem razão.

6 comentários:

Anônimo disse...

Você no fundo sabe que é um tremendo cara de pau, ganha dinheiro fazendo essas travessuras verbais, é incrível como você não enxerga o criminoso que vocês estão querendo reconduzir a ter a posse a chave do cofre , já está tudo sendo loteado , vocês realmente perderam a noção da ética jornalística, e essas pesquisas estão completamente destorcidas, basta olhar para as ruas, multidões aclamando o presidente a onde ele vai em todo o Brasil, inclusive no nordeste. Do outro lado do Lula não consegue sair na rua com medo da povo, o Bolsonaro sim pode ganhar em primeiro, por isso ele quer poder ter os votos auditáveis para evitar qualquer possível fraude
Hoje não é possível auditar o voto eletrônico como está num relatório da polícia Federal

Anônimo disse...

O criminoso, genocida, está na presidência há 3 anos e 7 meses! Mentindo, mentindo, mentindo, matando, agredindo, interferindo ilegalmente nas instituições, protegendo os filhos criminosos... Mais da metade da população já não acredita nas bobagens diárias que ele diz e que seus robôs e papagaios (como o anônimo acima) repetem sem qualquer vínculo com a verdade ou a realidade!

Anônimo disse...

Michelle Bolsonaro? Aquela que recebe os cheques dos milicianos e não sabe explicar a origem...

ADEMAR AMANCIO disse...

É,a campanha será árdua,como tudo nesta vida.

Anônimo disse...

URGÊNCIA BAJULADORA: com meses de atraso, o incompetente general Paulo Sérgio requer atenção "urgentíssima" do TSE para o que várias outras instituições públicas já se mobilizaram e aprovaram... A incompetência do general Paulo Sérgio é cavalar!

Anônimo disse...

Urgentíssimo:
https://www.correiodopovo.com.br/notícias/política/eleições/tse-exclui-do-grupo-de-fiscalização-das-eleições-coronel-suspeito-de-divulgar-fake-news-1.868970
Coronel criminoso foi indicado pelo incompetente general Paulo Sérgio!