Folha de S. Paulo
Deputados e senadores deixam Lula e
Bolsonaro para trás na briga por seus próprios interesses
A disputa de poder mais feroz do país não
se dá entre lulistas e bolsonaristas. Ela ocorre no Congresso e
tem o presidente da República como espectador. A briga de parlamentares por
influência, acesso aos cofres públicos e cacife eleitoral é o primeiro item da
agenda política atual.
Os cardeais do Congresso têm dedicado muita
energia a seu esporte favorito: acumular força para extrair benefícios de seus
cargos e relações.
Na Câmara, a batalha se dá na formação de blocos partidários, que pode determinar quem dará as cartas nos próximos anos. De um lado, há um consórcio mais próximo do governo —liderado por MDB e PSD, com a adesão de bolsonaristas do Republicanos. Do outro, PP e União Brasil discutem uma aliança, sob a batuta de Arthur Lira.
O jogo se dá menos em torno dos interesses
do governo e mais de olho na formação de maiorias para negociar verbas,
relatorias de projetos, vagas em comissões e a eleição do novo presidente da
Câmara em 2025.
A queda de braço entre deputados e
senadores por poder na votação de medidas provisórias tem um pano de fundo
semelhante. Os grupos que saírem vitoriosos esperam ter mais vigor para apitar
nas nomeações importantes e dizer para onde deve fluir a verba dos ministérios.
A equipe de Lula parece
ter poucas ferramentas para mediar a briga. Apesar de manter aberto
o balcão de negócios das emendas parlamentares, o governo não
demonstra fôlego para influenciar o jogo de forças no Congresso e se vê sob
risco. O arcabouço fiscal e as mudanças no marco do saneamento são alvo das
ameaças de deputados e senadores.
Parlamentares têm algum conforto —e muitos
incentivos— para trabalhar, em primeiro lugar, pelos
próprios interesses. Se o país vai mal, é quase certo que o
presidente da República será punido pelo eleitor nas urnas ou pelo próprio
Congresso com um processo de impeachment. A sobrevivência de deputados e
senadores, por outro lado, depende mais da propaganda e do dinheiro que eles
levam para suas bases.
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