Folha de S. Paulo
Na área econômica, houve momentos ruins,
como bagunça de Lupi com juros do consignado e ruído com presidente do BC
O governo Lula começou
derrotando o golpe dos terroristas de Bolsonaro, os mesmos que tentaram
explodir o aeroporto de Brasília na véspera de Natal. Interrompeu o genocídio dos yanomamis,
para quem Damares Alves,
em cujo ministério
trabalhava um dos terroristas do aeroporto, propôs negar água.
Expulsou garimpeiros de áreas proibidas e
revogou decretos que armavam a bandidagem bolsonarista. Começou a consertar as
dezenas de coisas que Jair
Bolsonaro quebrou, do combate ao desmatamento ao programa de
vacinas, do Bolsa Família ao Mais Médicos.
Nesse primeiro aspecto, consertar coisa que Jair quebrou, Lula começou muito bem. E eram tarefas difíceis: o grande insight do conservadorismo, que nunca chegou ao ouvido dos Olavos deste mundo, é que quebrar é fácil, consertar é difícil.
Na área econômica, o governo teve momentos
ruins, como a bagunça que Carlos Lupi fez com os juros do consignado para
aposentados. E houve muito ruído, como na briga de Lula com o presidente
do Banco Central.
Em parte, isso refletiu um processo de
aprendizado nacional: Lula é o primeiro presidente a conviver com um Bacen cujo
comando ele não indicou. A opinião
pública ficou do lado do presidente, mostrando que debates sobre as
causas dos juros altos deveriam ser mais comuns na esfera pública brasileira.
Mas o tom de Lula, personalizando a
crítica, foi um erro: se Campos Neto fosse
um infiltrado da extrema direita, teria deixado o juro baixo em 2022 e
proporcionado o voo de galinha que certamente teria reeleito Bolsonaro e
preservado o cargo do terrorista do aeroporto.
Apesar do ruído, Lula não tomou nenhuma
decisão que prejudicasse a gestão macroeconômica brasileira, e as propostas
econômicas que está apresentando ao Congresso são muito boas.
Na coluna
anterior, falei do arcabouço fiscal, um compromisso razoável que
deve estabilizar a relação dívida/PIB nos próximos anos. O próximo passo de
Lula na área econômica é a reforma tributária, bastante elogiada pelos
economistas, inclusive os que nunca votaram no PT. Se passar uma boa reforma
tributária, Lula sem alta das commodities terá feito pelo crescimento
brasileiro de longo prazo mais do que Lula com alta das commodities.
Lula também abriu discussões sobre o novo
ensino médio, uma ideia que não sabemos exatamente se era mesmo ruim ou se deu
o azar de ter Jair Bolsonaro como presidente na data prevista para sua
implementação. Afinal, se o Plano Marshall tivesse sido implementado por Vélez e Weintraub, em
15 dias o nazismo teria virado o resultado da guerra.
De qualquer forma, Lula decidiu não revogar o
novo ensino médio, mas sim tentar consertá-lo: se der certo, isso
mostrará competência do PT para dar o passo seguinte das políticas sociais,
depois de seus bem-sucedidos programas de transferência de renda.
Enfim, foram cem dias de um governo ideologicamente heterogêneo, que teve uma ameaça de golpe em sua primeira semana. Lula tem que equilibrar sua base popular, constantemente assediada pelos grupos de WhatsApp da direita radical, e seus novos aliados de centro. Felizmente, além de uma infinidade de crises, acabou herdando um repertório de boas ideias sobre políticas públicas que circularam pela área do centro até a esquerda nos quatro anos que passamos ouvindo o Jair falar de golden shower.
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