Folha de S. Paulo
Nenhuma interpretação em CPI livrará
líderes bolsonaristas da cadeia
Um vazamento meio esquisito de vídeos
gravados durante a Intentona Bolsonarista de 8 de janeiro de 2023
trouxe de volta a ideia da CPI do Golpe.
Se ela acontecer, sugiro que comece pela
história de como os bolsonaristas tentaram explodir crianças que viajavam para
visitar os avós no Natal de 2022.
No dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal, três terroristas bolsonaristas tentaram explodir um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília. A polícia conseguiu impedir a explosão e prendeu os terroristas.
Um dos terroristas, Wellington Macedo de
Souza foi assessor no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
dirigido, ao longo de todo o governo Bolsonaro, pela agora senadora Damares
Alves (Republicanos-DF).
Os outros dois terroristas da véspera de Natal, George Washington de Oliveira Souza e Alan dos Santos Rodrigues, estiveram no Congresso pouco tempo antes do crime. Foi em uma audiência pública convocada pelo senador bolsonarista Eduardo Girão (Podemos-CE).
A audiência foi um verdadeiro Carnaval do
golpe. Os ex-desembargadores Ivan Sartori e Sebastião Coelho pediram abertamente
uma intervenção militar, para aplauso geral.
Fazendo companhia ao terrorista da véspera
de Natal na audiência estavam todas as lideranças políticas do bolsonarismo
para além da família Bolsonaro: os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Filipe
Barros (PL-PR), Daniel Silveira (PTB-RJ), Bia Kicis (PL-DF), Osmar Terra
(MDB-RS) e Luis Carlos Heinze (PP-RS).
Segundo
o site Nexo, após o evento, manifestantes que vinham se reunindo diante dos
quartéis pedindo golpe de Estado entoaram o canto: "Se precisar a gente
acampa, mas o ladrão não sobe a rampa". Daniel Silveira manifestou sua
disposição para "matar ou morrer".
Falando dos acampamentos em frente aos
quartéis, sobre cujo golpismo não resta dúvida razoável, foi lá que George
Washington planejou o atentado da véspera de Natal. Segundo
ele, o plano envolveu outros manifestantes golpistas, que, inclusive,
forneceram "um controle remoto e quatro acionadores" para os
explosivos.
Felizmente, a polícia conseguiu prender os
terroristas da véspera de Natal antes que a tragédia se consumasse, e as
crianças de Brasília puderam viajar para ver seus avós.
Mas os bolsonaristas dos acampamentos, que
tinham vínculos políticos suficientes para participarem da audiência no
Congresso, e acesso a alguém (militar? policial? criminoso comum?) capaz de
fornecer acionadores de explosivos, não desistiram: em 8 de janeiro, tentaram o
golpe de Estado.
Os líderes do bolsonarismo, a começar pelo
próprio Jair, inspiraram os terroristas da véspera de Natal, deram-lhes acesso
ao Congresso e organizaram os acampamentos em que os terroristas planejaram o
atentado e conseguiram os acionadores para seus explosivos.
Foi esse mesmo movimento que tentou o golpe
no dia 8 de janeiro de 2023, que pôde destruir as sedes dos três Poderes porque
a polícia de Brasília estava sob ordens de Anderson Torres, ex-ministro da
Justiça de Bolsonaro em cuja residência a polícia encontrou a minuta da declaração
do golpe.
É o que canta o coro dos fatos.
Entendo, portanto, que os líderes
bolsonaristas criem interpretações delirantes sobre o 8 de janeiro. Afinal,
nenhuma interpretação razoável os livrará da cadeia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário